Crítica | Rádio Baile


★★☆☆☆
2/5

DJ MARIACHI está na cena desde meados de 2021. A faixa “MTG VAI SENTIR NO POCT PÓ”, sua estreia, foi marcada pelo mandelão, som que sempre se firmou como um dos pilares de seus projetos. MARIACHI alcançou o grande público com “Beat do Gaitero”, que conta com a participação de DJ W-Beatz, MC L3 e MC Lari. Mesmo em seu grande sucesso, carrega a identidade do mandelão, e o tempo colaborou para isso, já que a cena da época vivia um boom do gênero como conhecemos hoje.

Mas uma coisa curiosa, é o fato que o DJ nunca pensou em abandonar essa sonoridade. É claro que a lapidação do seu som é perceptível com o passar do tempo e da experiência, e o álbum Rádio Baile demonstra isso quase integralmente. Como mencionado, o disco se estrutura principalmente no funk mandelão e em suas vertentes. Um elemento muito presente são as batidas marcadas, que permanecem em um limbo entre o electro house e o electro-pop. O que normalmente define a direção são as progressões das faixas: ora mais focadas no elemento sonoro, apenas melódico, ora mais preocupadas em transformar a faixa numa mistura homogênea de acapella e melodias.

Num primeiro contato, o que se espera desse aprofundamento tão delimitado no funk mandelão é uma possível reciclagem e faixas tediosas ao longo do percurso. E, de fato, Rádio Baile não passa ileso por isso. Músicas como “Porradão na Tcheca”, “Ritmada Dub Edition”, “Hipnose Auditiva” e “Toma Botando no Útero” demonstram um esgotamento criativo em sua concepção. A primeira é uma higienização quase ofensiva ao ouvinte, lembrando muito o que artistas pop brasileiros fariam para colocar em seus álbuns e depois postar nas redes sociais dizendo: “olha esse beat foda”. A voz com auto-tune nos primeiros minutos da faixa remete diretamente a Pedro Sampaio, e isso não é um elogio. A segunda concentra as características que mais incomodam: a criação de padrões de batida específicos, apresentados logo no início e repetidos em círculos, sem acréscimos que ao menos gerassem a sensação de novidade.

A terceira possui elementos que poderiam dar certo; os sons cacofônicos que deslizam entre o estourado e o estridente são boas ideias, mas a decisão de colocá-los em tons baixos irrita, transmitindo a sensação de que a faixa foi gravada em uma ampola de 50 ml, tamanha a compressão sonora. Já “Toma Botando no Útero” se limita a uma repetição sem muito sentido, já que o material “original” não é suficientemente chamativo, tornando a reincidência cansativa aos ouvidos. Ainda assim, há faixas de destaque, como “Tuf Tuf Pof Pof”, “Ritmação de Mafioso” e “Ondinha”. A primeira apresenta elementos que ultrapassam o mandelão, incorporando ideias mais próximas do IDM. As outras duas têm algo em comum, no caso, o uso dos elementos cacofônicos para além do escopo da música, como um copo d’água que transborda.

Por fim, o álbum tem seus méritos. A ideia de ser um DJ set funciona e, como todo DJ set, apresenta seus momentos de abrir a pista com euforia, acalmar a multidão em seguida, depois reacender o entusiasmo e, por fim, conduzir à dispersão. Rádio Baile concentra todos esses estágios, ainda que de forma mais acelerada, devido à sua curta duração de 29 minutos. Mesmo assim, cada etapa fica marcada quando se escuta o trabalho.

Selo: Tratto Entretenimentos
Formato: LP
Gênero: Funk / Funk Mandelão, Eletrônica

Antonio Rivers

Me chamo Antonio Rivers, graduando em História, amazonense nascido em 2006. Faço parte do Aquele Tuim, nas curadorias de Experimental, Eletrônica, R&B e Soul.

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