★★★★☆
4/5
4/5
O melhor exemplo disso está logo em “How We Roll”, parceria com Chris Brown que é o ápice da intenção do projeto: abusada, viciante e feita sob medida para o público que viveu a boa fase da black music dos anos 2000. O dueto funciona porque os dois têm uma química natural e uma bagagem que se comunica, ambos dominam esse território sonoro e entregam uma faixa sensual, com refrão pegajoso e produção impecável, apenas reafirmando o que eles sabem fazer de melhor. Já “Run It Up”, com BossMan Dlow, mostra um outro lado da Ciara, mais direta, firme, com um flow que se encaixa perfeitamente num beat pesado de trap. É o tipo de faixa que mostra que ela ainda tem domínio sobre o rap e sobre a própria identidade musical.
Em “Dance With Me”, a escolha de Tyga como feat é outro acerto gigantesco. Ele tem aquele timbre marcante que ajuda a deixar o som reconhecível logo nos primeiros segundos e a faixa segue a mesma linha chiclete de How We Roll, quase como um lado B do hit. Ciara aposta nessa estratégia o disco inteiro: refrões viciantes, melodias fáceis de memorizar e beats potentes. O objetivo é nítido ao criar um repertório que reverbera no público de forma instantânea, talvez até mirando um retorno aos charts e uma permanência em playlists e trends.
Mas CiCi (Deluxe) também reserva momentos de desaceleração, como por exemplo em “Low Key” que traz uma densidade diferente, mais sombria porém voltada ao trap, enquanto “Type a Party” é uma faixa quase que totalmente acústica, revelando uma Ciara mais intimista, o que também ajuda o disco a não se tornar repetitivo. “Wassup” com Busta Rhymes, entrega a vibe gangster clássica que faltava, e é curioso perceber como essa parceria soa natural, como se fosse uma extensão das colaborações que dominavam as rádios em 2005. Já “Drop Your Love” é uma das surpresas mais injustiçadas do disco. A faixa tem aquele toque nostálgico que lembra “Love Come Down” de Evelyn “Champagne” King, e mesmo assim passou despercebida entre o público, talvez por não dialogar diretamente com as tendências “pop” de agora.
O projeto ainda ganhou uma edição deluxe com quatro faixas extras, entre elas “Low”, parceria com o tanzaniano Diamond Platnumz, que adiciona um toque de afrobeats à estética do álbum e reforça a versatilidade de Ciara dentro do R&B. É um acerto específico que incorpora energia, suingue e soa empolgante dentro da proposta geral. No todo, CiCi (Deluxe) é um álbum sólido, bem produzido e com uma entrega lírica coerente com a fase da artista. Porém, apesar da qualidade, ele acaba sendo “só mais um disco” em meio a um mercado que mudou completamente. O público de hoje não depende das rádios, e sucesso já não é mais sinônimo de presença em paradas ou programas de TV. As métricas são outras, os hábitos de consumo também, e talvez por isso um trabalho tão bem feito não tenha viralizado como merecia.
Ainda assim, há algo de simbólico em ver artistas como Ciara insistindo em manter viva essa essência da era de ouro do R&B. CiCi (Deluxe) não é um retorno triunfal, mas é uma afirmação de continuidade, uma típica artista que entende seu legado, honra suas raízes e ainda encontra espaço pra dançar dentro do tempo que corre.
Selo: Beauty Marks Entertainment
Formato: LP
Gênero: R&B / Hip Hop