
4/5
De 2003 a 2007 é o período de tempo em que se localizam as faixas de Root Echoes, novo álbum do venezuelano DJ Babatr. O mais interessante, porém, é como essas músicas parecem não se prender a esse espaço temporal que ficou no passado, muito pelo contrário: seu som avança, atinge modelos futuristas de eletrônica que se desenvolveram na América Latina. E isso tem um nome: raptor house. DJ Babatr criou esse estilo e há muito vem operando nele. Seria considerado um gênio à la Aphex Twin e Burial caso estivesse atrelado às criações ocidentais de música eletrônica do começo do século.
As faixas aqui nasceram na cena miniteca da Venezuela do início dos anos 2000, em que Babatr é amplamente conhecido, e consumidas em diferentes tipos de mídia, como CDs piratas e festas de rua, que o tornaram parte do vocabulário sonoro compartilhado de uma geração inteira. Hoje, com o reconhecimento de sua inovação, há que se dizer que Root Echoes espelha muito bem toda essa amálgama de sentidos temporais, estéticos e geracionais. É um dos discos mais importantes de 2025.
O som é muito característico, não há como confundir com outra coisa. Ele deriva do changa tuki, termo genérico para a dance music eletrônica – house, tribal, techno, eurodance, entre outros – que ecoava nos guetos venezuelanos entre os anos 1990 e 2000. A partir disso, Babatr criou uma espécie de cola instantânea que uniu todos esses estilos em prensagens instrumentais mais diretas, com foco intenso no ritmo enérgico, funcionando como uma variação mais popular dos avanços que o techno causou nas subculturas da eletrônica formal.
Muito por isso, a changa ficou mais ligada ao estilo de vida, à roupa e ao comportamento dos seus apreciadores, enquanto o raptor house seguiu com a parte das experimentações e dos avanços estéticos. É aí que Babatr surge como um dos nomes mais importantes. Ele acrescentou uma centena de novos elementos e sustentou tudo através de marcas como a percussão afro-venezuelana, a junção do techno tribal e o tom acid, que dão às suas músicas uma aparência leve e, ao mesmo tempo, densa de texturas.
Faixas como “The Tech Sounds” exemplificam muito bem a intencionalidade por trás das criações do DJ. Os golpes percussivos se alinham à cadência de ritmo que remete ao eurodance, enquanto sua estrutura é puramente trance. Nos segundos finais, as caixas tomam todo o espaço – é o ponto forte da linguagem de Babatr. A mesma impressão segue por “Let’s Do It (te-te)”, desta vez mais alinhada ao techno, com forte uso dos espaços solo do sequencer TR-909.
Nenhuma faixa, porém, representa melhor os sentidos criativos do estilo e de seu autor do que “Call Space”. Suas percussões transcendem qualquer similaridade na música eletrônica. É o raptor house em seu estado natural, com riffs estridentes e um tom ritualístico demarcado por colocações analógicas que emulam o futurismo das batidas. É como se reunisse em torno de si maneirismos de composição, mas reside aí sua intenção de romper com as caracterizações externas que podem surgir pela associação. Causa um choque. É ancestral. De uma seleção de 700 faixas para este disco, a escolha desta única aqui se justifica plenamente, bem como o legado de Pedro Elías, DJ Babatr.
Selo: Hakuna Kulala
Formato: LP
Gênero: Eletrônica / Raptor House