Crítica | Hustle Mode / Boss Mode


★★★☆☆
3/5

Hustle Mode / Boss Mode, novo álbum do artista nigeriano Cazulee, é daqueles lançamentos que chamam atenção logo pelo formato — dividido em dois lados, como o título propõe, o disco parece sugerir uma experiência dupla, quase como duas personalidades do artista convivendo no mesmo espaço sonoro. Não conhecendo a fundo sua trajetória, seria até indevido afirmar certas coisas sobre seu processo criativo, mas o que dá pra perceber é uma intenção clara de explorar as múltiplas vertentes da música urbana nigeriana. As faixas se apoiam em referências fortes de amapiano e afrobeats padrão, criando um terreno familiar, mas mesmo assim, ainda cheio de energia e boas ideias.

Entre os destaques, “Juru”, parceria com Billion Solar, é o tipo de faixa que prende logo nos primeiros segundos. A batida de amapiano é envolvente, e os vocais dos dois artistas se encaixam com uma naturalidade que dá à música um peso contagiante. Já “Away”, com Liya, reforça um dos pontos mais interessantes do álbum: a presença de vozes femininas dentro do gênero afrobeats. Há uma troca potente entre os dois, que faz a faixa soar viva, dançante e equilibrada. Não à toa, é a mais ouvida do disco e com o álbum recém-lançado, tem tudo para se tornar um sucesso e alavancar ainda mais a carreira tanto de Cazulee quanto de Liya.

Conhecido por ser um “street-rooted storyteller”, Cazulee vem ganhando reputação por narrar nas músicas as experiências e emoções do cotidiano — as lutas, ambições e conquistas. Antes desse projeto, seu disco Okanlawon Vol. 2 já acumulava milhões de plays, consolidando uma base de fãs sólida nas plataformas digitais. Hustle Mode / Boss Mode reforça essa identidade, mas também mostra vontade de ir além do previsível: o lado 2 do disco, por exemplo, surpreende ao começar com “Boring DP”, faixa que mergulha em sonoridades mais próximas do hip hop, trap e rap. Esse caminho segue com “For You” e com a faixa-título “Boss Mode (Hustle Mode)”, que misturam batidas mais densas com o mesmo olhar narrativo que o acompanha desde os primeiros trabalhos.

As últimas músicas de cada lado funcionam como bônus e, curiosamente, algumas das mais bem resolvidas do álbum. “Unapologetic” encerra o projeto de forma vibrante, com um afrobeats que incorpora elementos menos convencionais, sem perder o caráter dançante e animado que permeia todo o gênero. É um fechamento coerente para um artista que parece equilibrar o desejo de crescer com a necessidade de se manter autêntico. Cazulee ainda é um nome em construção, mas o som dele que percorre entre o afro-fusion, o afro-street e o hip hop contemporâneo deixa claro que ele tem o instinto certo para continuar se destacando na nova cena nigeriana.

Selo: Dapper Music & Entertainment
Formato: LP
Gênero: Música do Continente Africano / Afrobeats

Viviane Costa

Graduanda em Jornalismo, apaixonada por Música, Arte e Cultura. Integra a curadoria de Rap e Hip Hop do Aquele Tuim.

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