Entre nós: The Life of a Showgirl - Taylor Swift


Leia o que os nossos redatores NaPauta, Matheus José, Viviane Costa, Antonio Rivers, Davi Landim, Vit, Pedro Piazza, Marcelo Henrique, João Vitor, Victor Persico, gambito de rafinha, Lucas Granado e Davi Bittencourt acharam do novo disco da Taylor Swift.

De vez em quando, nossos redatores se reúnem em torno de um disco de destaque – seja pelo lado positivo ou negativo – para compartilhar de forma ampla a visão coletiva sobre a obra em questão. É quase um papo entre nós, e o escolhido de hoje é The Life of a Showgirl, de Taylor Swift.



NaPauta: O álbum consegue capturar o zeitgeist do presente vivido especialmente nos Estados Unidos, o problema é que ele captura o que há de mais conservador, reacionário e deprimente do presente não porque consegue construir uma crítica ou estar distante desse momento horrendo, mas sim porque está imbuído até o pescoço dessas ideias. Chamar de medíocre parecia elogio, porque soaria humanizado. Inclusive tudo isso pode ser visto sem sequer ouvir o álbum, com sua identidade visual que se apresenta como a versão trumpista do burlesque, mas ouvir confirma a falta de vida, pelo menos nesse ponto Taylor é honesta.

Matheus José: Lixo.

Viviane Costa: Este álbum é uma surpresa muito positiva pra mim no cenário do pop contemporâneo. Eu me perguntava onde estava a artista por trás de tantos discos recentes melancólicos e tediosos, e este trabalho me deu a resposta. Embora não seja o melhor disco pop da atualidade, ele resgata a energia e o brilho do início da carreira dela. É inegável que "The Fate of Ophelia" se destaca como a melhor faixa do álbum – e talvez se sobressaia a muitas faixas chatas que ganharam destaque na sua discografia recente. Se o disco seguisse essa linha por completo, certamente atrairia mais interesse na escuta de quem está criticando ou não gostou. E mesmo não sendo uma ouvinte assídua de Taylor Swift ou alguém engajada na pop music, tenho que admitir que existe um certo brilho nessa produção.

Antonio Rivers: Tenho uma curiosidade genuína sobre a dinâmica nos estúdios com Taylor Swift. Por um tempo, os fãs atribuíram as suas derrocadas criativas ao produtor Jack Antonoff. Agora, com a volta de Max Martin, a promessa foi que teríamos o pop da sua discografia de volta, mas o resultado foi o mesmo de sempre: músicas ruins. É no mínimo curioso imaginar que não haja, em todo esse processo de produção, um corajoso que fale “isso aqui tá ruim em”. Sua limitação vocal incomoda, chega a ser cômico ver que dentre 12 faixas, a sua voz se mantém no mesmo volume, seu único ápice técnico é repetir “oh oh oh” sem desafinar. Pelo menos neste projeto, nota-se uma certa consistência na sua discografia, que é a de incluir faixas com letras notavelmente medíocres. Em The Tortured Poets Department temos “I Hate It Here”, já em The Life of a Showgirl temos “Actually Romantic”, que atinge um nível de regredimento absurdo, é como se fosse uma adolescente de 15 anos que acha que o mundo é contra ela tivesse escrito essa faixa. Por fim, The Life of a Showgirl é um produto para seus fãs mais dedicados, que são os únicos capazes de ouvir isso e dizer: “está bom”.

Davi Landim: É impressionante a queda de rendimento da Taylor desde o Midnights. Aqui, há uma sonoridade puxada para o pop rock que se mostra interessante para a discografia da cantora, entretanto, essa novidade passa batida quando paramos para analisar a lírica. Swift tem um histórico de abusar de metáforas e breguices em suas letras – o que não é ruim, afinal, gosto de cada canção impregnada de exageros românticos e melancólicos de sua discografia – porém, desde o Midnights, parece que ela perdeu a mão completamente de suas escritas. O que era brega, se tornou um copo cheio de vergonha alheia; basta observar a suposta diss que ela fez pra Charli xcx (“Actually Romantic”), é praticamente inaudível. The Life Of a Showgirl é tão horrível quanto The Tortured Poets Department.

Vit: Chato, chato, chato. Porém, dá para salvar as faixas The Fate of Ophelia e Opalite (essa me lembrou um pouco das eras 1989 e Lover). Mas o restante são músicas que tem aquele padrão sem sal da Taylor. “Actually Romantic” nem é uma das piores sonoramente, mas a letra é tão vergonhosa. Uma vibe mean girls de quinta série. Fubanguice total. Mesmo com músicas tão chatas, aguardei ansiosamente o feat com a Sabrina Carpenter, que acabou sendo uma espera à toa, porque é uma música totalmente sem graça e esquecível. Em geral, é um álbum bem entediante. Um disco que serve de trilha sonora para uma longa espera de atendimento em um posto médico.

Pedro Piazza:


Marcelo Henrique: Não é de hoje que Taylor Swift é uma figura polarizadora, e talvez isso venha da forma como sua personalidade foi estrategicamente moldada desde o início da sua carreira. Todos os seus discos são palco para opiniões extremas — ou amam, ou odeiam —, e isso também é fruto do padrão sobre o qual eles foram feitos. folklore e evermore talvez sejam as únicas exceções; duas obras lançadas após um período de baixa na sua popularidade (se é que posso defini-lo dessa forma) e as que mais se aproximam de um consenso — por isso são vistas como as melhores, apesar de não serem. Mas o que sucedeu esses discos foi uma retomada estrondosa e sem precedentes: ela acabou de fazer a maior turnê de todos os tempos e se tornou bilionária. É inegável que, hoje, ela seja a maior popstar do mundo. Penso que isso apenas intensificou os sentimentos que as pessoas têm acerca de seus álbuns, e a resposta que The Life of a Showgirl está tendo é uma prova disso. Os fãs sempre vão gostar de tudo mas, dessa vez, os comentários negativos são inescapáveis. E eu não consigo discordar deles — depois de todos esses feitos que eu citei, é realmente ridículo ouvi-la cantar sobre possuir uma “singularidade terminal” e estar “morrendo por tentar parecer descolada”. É triste perceber que ela ainda está presa nesse conceito de tentar ser alguém, como fez no reputation, quando, na verdade, já faz tempo que ela não é qualquer uma. Era o momento de abraçar isso. Pena.

Matheus José: Imagina você ser amiga e andar com apoiadores do Trump e ainda se orgulhar disso…

João Vitor: Taylor tenta se reinventar, mas no fim, o problema parece ser pessoal mesmo (dela com a sua própria mediocridade, no caso). Eu tinha uma leve esperança de que, após tantas reclamações sobre as produções de Jack Antonoff, o álbum seria minimamente interessante por ter o Max Martin na produção (que ajudou a produzir os meus dois álbuns favoritos dela, o 1989 e o Red), mas no fim, a Taylor se porta como uma Karen da música: escrevendo qualquer balela se achando intelectual. Ao menos, “The Fate of Ophelia” é minimamente aproveitável. No fim, ela prova mais uma vez como está sendo ridícula e até agora estou rindo de uma bilionária usando I.A em vídeos promocionais, sendo que ela poderia fazer, ao menos, um trabalho bem feito com designers pra esse projeto – se fosse pra fazer mil versões e produzir plástico ao ponto de furar a camada de ozônio, talvez ela contratasse alguém.

Victor Persico: Usando a Elizabeth Taylor como exemplo, já que seu nome está em uma das faixas do álbum, a profundidade comparada com a atriz é praticamente nula. Precisa de MUITA LOUCURA da Elizabeth Taylor para que a Taylor Swift consiga encontrar o que ela tanto almeja. Tão energético quanto uma corrida de tartaruga e emotivo como uma batata, traz falta de inovação e referências pré-adolescentes ligadas às piores culturas da internet. A “homenagem” para George Michael chega a te fazer pensar “ainda bem que ele está morto para não ver este sacrilégio”. Uma bela forçação de barra que não faz do álbum nem ser um mais do mesmo. Não é nem questão de “se aposenta, garota”. É um “Pare tudo e pensa no que você está fazendo”, pois o hype é tão gigantesco que não consigo entender o motivo, já que não há mais nada surpreendente. O último álbum, que achei chato, consegue ser até legal diante desse.

gambito de rafinha:


Lucas Granado: Ficou claro que a vida de uma showgirl nesse contexto é mais parecida com as vedetes do SBT que ficam promovendo produtos do Baú da Felicidade na TV do que uma mulher que se preocupa em entregar um espetáculo. Trata-se de um movimento comercial, que estimula o consumo dos fãs em troca de recordes e uma sensação de dominação quando na verdade nada disso tem impacto real, pois é apenas uma embalagem, sem recheio, sem sabor, sem artisticidade ou criatividade. É perceptível que ela quer parecer madura colocando uns palavrões aqui e ali em alguns momentos, mas ela ainda quer manter a imagem de garota branca delicada e até mesmo um pouco conservadora, que tudo o que sempre sonhou foi casar e ter filhos. As letras beiram o ridículo, ela continua utilizando metáforas da forma mais manjada para fingir que existe alguma profundidade e manter o status de compositora, porém já não é mais o suficiente. Nem consigo falar sobre como o álbum soa porque já esqueci, inclusive é um dos trabalhos mais esquecíveis que ouvi nos últimos tempos. Para os fãs, será um deleite, para o público em geral, é uma piada de mau gosto.

Davi Bittencourt: Não há nada, no aspecto musical, que sustente a imagem conceitual trabalhada nos visuais: o disco soa mais raso que uma piscina inflável infantil, reduzido a uma representação de pop fabricado sob a lógica de uma produção industrial, carente de substância e personalidade. O resultado é um conjunto de músicas que beira o completo vazio artístico. Haveria de dizer que The Life of a Showgirl falha em cumprir sua proposta, mas, na verdade, o disco é bastante exitoso em expor “a vida de uma showgirl”, não de uma garota qualquer, mas da própria Taylor Swift em sua fase atual. Trata-se de um retrato fiel da mente de uma artista moldada e marcada pela fama proporcionada pela indústria: no caso, uma mulher bilionária que conquistou o mundo e que, agora, parece padecer de um certo complexo de superioridade.
Aquele Tuim

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