Crítica | Myth of Tomorrow


★★★★☆
4/5

É interessante a maneira como o novo álbum de Erika Dohi, Myth of Tomorrow, dialoga com as tradições musicais de suas referências ecléticas, do jazz à composição clássica, construindo paisagens sonoras com dedilhados e toques suaves que transitam entre a música ambiente e a expressão corporal. Em nenhum momento Erika dilui suas explorações para torná-las mais acessíveis, mesmo quando opta por incluir ou omitir sua voz em composições que seguem estruturas pop reconhecíveis. Momentos como “Saturn Square Venus (feat. Lauren Cauley)” conferem robustez às suas ideias, essencialmente ao integrar instrumentos orgânicos como parte de seu diálogo com essas tradições – é delicado e envolvente, flutuando nos ouvidos do ouvinte com naturalidade.

A sequência, “In The Wild”, exemplifica ainda mais sua abordagem: sintetizadores perturbam o saxofone de jazz, enquanto texturas sonhadoras e elementos imprevisíveis capturam o espírito da improvisação, mostrando como Erika se apropria de suas referências para expandi-las. Parte do êxito do álbum está na busca constante por descoberta e inovação. Essa sede de explorar é perceptível em instantes como os toques reflexivos guiados por uma nota imperturbável em “Shahzad + Erika”, com Erika conduzindo o piano, ou nas palavras faladas de “Transplante”, com a poetisa Carol Féliz, que acrescentam dimensões íntimas e narrativas à obra. O uso do raro e icônico sintetizador Fairlight CMI reforça essa ponte entre tradição e contemporaneidade, consolidando a visão de Erika sobre passado e futuro. É um dos trabalhos mais audaciosos e diversos de 2025.

Compre: Bandcamp
Selo: Switch Hit/Figureight
Formato: LP
Gênero: Experimental

Matheus José

Graduando em Letras, 24 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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