
★★★☆☆
3/5
É impossível pensar em Vanities, álbum de estreia da francesa Barbara Braccini sob o projeto Malibu, sem considerar sua veia acessível e o que isso representa para os gêneros que ela busca trabalhar. Quando coloquei seu disco Palaces of Pity entre os meus favoritos de 2022, o descrevi como algo além das forças naturais que costumam designar os aspectos orgânicos da música ambiente. É um disco que permaneceu no meu imaginário e que, de alguma forma, preparou, ao lado de outros projetos dela, o terreno para esse primeiro LP. A diferença é que, em nenhum de seus outros lançamentos, havia uma busca por diálogo mais aberto com as supostas informalidades da música ambiente, que ela trata aqui como chamarizes perfeitos. E esse talvez seja o problema da música que faz uso de escolas experimentais quando tenta ser acessível: ela soa redutiva. Os piores momentos de Vanities são aqueles que usam dessa prerrogativa para causar alguma impressão de grandeza, como em “So Sweet & Willing”, cujo canto se constrói a partir de uma atmosfera cinematográfica, sonhadora, repleta de relevos e anotações maneiristas que provocam apenas isso… impressões. De alguma forma, Vanities parte da compreensão de que Malibu realmente devesse apostar no que fosse mais usual, e que buscasse representar todos seus outros projetos.
Para isso, seus vários minutos vagos são adornados por chiados, instrumentos de sopro reduzidos a uma suavidade exagerada e gravações de campo, que remetem muito ao disco One Life, de 2019. É o caso das faixas “Lactonic Crush” e “Spicy City”, que nos guiam em um passeio entre “Lost At Sea”, com o som das ondas do mar e acordes dramáticos de piano, sustentados por um coral que Kali Malone saberia melhor como orquestrar. “Jaded” e “Vanities” são, por outro lado, os momentos que melhor exibem algo próprio de Malibu, no sentido referencial de suas criações. Ambas as peças ultrapassam os sete minutos de duração e não temem explorar elementos que ela, vez ou outra, precisa picotar dentro do álbum para criar sequências elusivas ao ouvinte. A segunda, em especial, reserva um espaço maior ao drone, que corre livre, sem interrupções, com variações mínimas e um tom que cresce mesmo sem de fato crescer. Esse é o tipo de música que tornaria abordagens como essa mais interessantes, ainda que mais simpáticas para quem busca algo diferente, mas sem querer se assustar ou morrer de sono. Por fim, achei justa a comparação despretensiosa que vi alguém fazer entre ela e Tim Hecker. Há algo em comum entre os dois que parece afastar seus trabalhos, cada vez mais, daquela densidade exploratória que outrora marcou suas carreiras. Eles ainda estão em plena forma, mas confundem o abrir-se com o entregar-se ao prosaico.
Selo: Year0001
Formato: LP
Gênero: Música Ambiente / Experimental