
É difícil saber exatamente quando esse suposto desentendimento começou. Se foi em meados de 2018, quando Charli xcx disse em entrevista que se sentiu como se estivesse cantando para crianças de cinco anos ao abrir os shows de Taylor Swift, ou se foi mais tarde, com a aproximação de Charli de Matty Healy, vocalista do The 1975 e com quem Taylor viveu um breve namorico.
A verdade é que tudo parecia incerto. Só parecia. Em fotos vazadas do encarte do próximo álbum de Taylor Swift, The Life of a Showgirl, chama atenção uma faixa: “Actually Romantic”. Não demorou para que a letra fosse diretamente associada a Charli xcx, principalmente nos versos “High-fived my ex and then you said you're glad he ghosted me”, referência a Matty Healy — ex de Taylor, hoje em um relacionamento com uma parceira apresentada a ele por Charli, enquanto ela própria se envolvia com George Daniel, também integrante do The 1975. E se havia dúvidas de que a indireta era para Charli, o trecho “I heard you called me 'boring Barbie' when the coke's got you brave” parece confirmar. O próprio título da música pode ser lido como alusão à faixa “Everything's Romantic”, do aclamado BRAT.
O problema é que, mesmo que Taylor aparecesse em público hoje e negasse que a música é um ataque a Charli, a escolha por esse tipo de pressuposto lírico já seria suficiente. Dentro da sua base de fãs, metáforas e indiretas se transformam em fatos inquestionáveis, tão reais quanto a luz do sol. Até porque os swifties já nutriam uma rivalidade contra os fãs de Charli desde a época em que eles, em tom de piada em baladas e shows, gritavam em conjunto “A Taylor morreu!”, levando a própria Charli a pedir publicamente que parassem.
Desde então, swifties dedicam dias e noites a atacar Charli e seus fãs, muitas vezes com discursos sorofóbicos e explorando negativamente o imaginário de baladas regadas a drogas que BRAT apresentou como meio narrativo das muitas liberdades clubísticas. A burrice dos fãs de Taylor é notória em muitos assuntos, mas eu pessoalmente nunca imaginei ver a própria Taylor reforçar e alimentar tamanha distorção.
Charli, ao contrário, deixou claro o conceito de “Everything’s Romantic”. Diferente de uma possível justificativa da Taylor sobre “Actually Romantic”, há algo de genuíno na explicação de Charli: as referências estão lá, explícitas, nítidas para quem quiser ler. Ninguém jamais associaria a Taylor Swift, a não ser ela mesma e seus fãs. E ambos ainda sustentam absurdos, como a ideia de que ela estava “certa” quando tratou de escravidão em “I Hate It Here”, uma de suas composições mais toscas.
O pior é que Taylor Swift nunca demonstra firmeza em seu discurso. Onde está a Taylor de “You Need To Calm Down”? É chocante vê-la agir como uma adolescente que acorda na defensiva, achando que qualquer música é um ataque pessoal. Mais ainda: é assustador como ela consegue assumir qualquer narrativa. Seu alcance é gigantesco, e por isso qualquer ato proclamado, mesmo que falacioso, ganha status de verdade absoluta. Taylor é mestra na manipulação de opiniões, explorando a lógica de que a repetição de mensagens enganosas pode transformá-las em “fatos”.
A sorte é que, nessa briga, Charli não está em desvantagem. Taylor tem bons números. Charli tem boas músicas. Quem você prefere?