Crítica | EUSEXUA (Relançamento)


★★★☆☆
3/5

Nos últimos três dias, FKA twigs mudou capas — inclusive a de EUSEXUA Afterglow, um disco totalmente novo — e tirou e acrescentou faixas do EUSEXUA. Essa inquietação traduz bem a angústia de acompanhar artistas modificando suas obras nas plataformas de streaming após o lançamento. twigs, pelo menos, deixou o álbum “original” intacto para quem quiser ouvir, mas perdi a conta de quantos já mudaram capas, tiraram ou ocultam faixas. Na nova versão de EUSEXUA, a discussão recai sobre as faixas retiradas e as que foram colocadas como novidades, um processo particularmente estranho, pois o álbum pareceu ter sido duplicado, com capa diferente e sem as faixas novas. Ficou assim até 00h, sem faixas, como se fosse um bug… Parece um tanto reacionário reclamar disso, mas ouvir esse relançamento não passou de uma experiência assim… estranha.

As faixas adicionais não são ruins, mas só de imaginar que as ouvimos no lugar de outras, as quais correspondiam muito bem à ideia e a todo o rollout de EUSEXUA, dá um gosto amargo, uma sensação de algo incompleto. E realmente está. “The Dare” é tão calma quanto plana, com baterias que prolongam o mesmo efeito trip hop usado em “Girl Feels Good”, mas sem a atmosfera mais ambiente que a faixa, uma das melhores que twigs já lançou, traz. “Got To Feel” no lugar de “Childlike Things” é a pior mudança: a música é divertida, tem percussões que encheriam Caribou de orgulho, mas não vai além disso. O destaque fica para “Striptease”, com Eartheater, que deveria estar no EUSEXUA como parceira creditada há tempos; ela tem tudo a ver com o que twigs busca transmitir de etéreo, provocando impressões quase transcendentes no conjunto de composições instrumentais e líricas do álbum.

Lonely But Exciting Road”, a mais acessível, é o tipo de música noturna que serve de trilha para qualquer momento que instigue sentimento de liberdade. É a segunda melhor adição, pois consegue encerrar bem os dois EUSEXUAs, com um certo nível de apreensão pela sua estrutura mais comum. A faixa é bem conhecida dos fãs, foi apresentada ao vivo por twigs no desfile da Valentino em 2023 na semana de moda de Paris. Mas é impossível terminar de ouvir isso aqui e não correr para “Wanderlust” e suas cordas que introduzem com leveza o canto de twigs, que cresce aos poucos, até ganhar corpo – é de arrepiar toda vez. Há muita coisa para sentir falta aqui, para se confundir e, sobretudo, para se observar. No fim, é interessante como twigs se dispõe a fazer essas intervenções, testar formas distintas de prolongar uma era. Só torço pra que não vire moda, pois essa estratégia em mãos erradas (Taylor Swift) revelaria péssimos segredos.

Selo: Young
Formato: Relançamento
Gênero: Pop / Eletrônica
Matheus José

Graduando em Letras, 24 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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