Crítica | ILEKTRONIKS


★★★☆☆
3/5

Em uma onda crescente recente (advinda do período pandêmico) de popularidade da música house, era de se esperar que a produção do gênero eventualmente caísse em uma fórmula automática, tornando-se uma fonte seca e deficiente de ideias. O EP do DJ LUSÍ, ILEKTRONIKS, se aproveita dessa tendência, mas consegue extrair dela conceitos interessantes.

Esse método que está vigorando de produção de álbuns, EPs e singles, baseia-se em uma reimaginação de algo que já é uma releitura. No caso do house, significa reproduzir o gênero com a estética das décadas de 1980 e 1990, mas filtrado pela percepção e pelas referências indiretas dos artistas da década de 2020. Para ilustrar, é como tentar costurar uma roupa da época medieval usando apenas imagens do Pinterest como fonte: o resultado é uma interpretação superficial, distante do contato real com a essência e os contextos originais. Por si só, esse método cria um cenário perfeito para o surgimento de produções assombrosas, tanto de artistas mainstream quanto dos mais "underground".

A questão é que, em ILEKTRONIKS, o artista se ancora no house contemporâneo, evitando emular uma nostalgia vazia em suas faixas — o que se constitui como um dos pontos fortes do disco. Para além do house, ele incorpora elementos de EDM e de funk, que servem para acrescentar camadas às composições. O funk, em especial, funciona como uma "capa" ou uma estética de superfície, enquanto o EDM e o house formam o conteúdo principal. Essa escolha revela-se inteligente justamente porque o funk utilizado por DJ LUSÍ não traz nenhuma inovação dentro do próprio movimento atual; seu funk está alinhado com a tendência de simbiose com a música eletrônica formal, mas sua aplicação específica aqui não avança além do que já é convencional para esse estilo.

Essa postura de se manter no seguro também se reflete no uso do house e do EDM ao longo do EP, com a notável exceção da faixa-título “ILEKTRONIKS”, que representa o ponto mais alto do projeto. Nela, o agrupamento de texturas ásperas e ruidosas sobre uma batida marcante e simples constrói, progressivamente, uma atmosfera cada vez mais tensa e desconfortável — no bom sentido —, fazendo da faixa uma das melhores demonstrações do potencial criativo do DJ LUSÍ.

Por fim, ILEKTRONIKS passa longe de ser um trabalho ruim ou falho, mas é inegavelmente confortável e seguro em sua execução. Essa falta de ousadia faz com que a experiência de ouvir o disco não seja das mais marcantes, e, diante de possíveis lançamentos futuros de funk ou eletrônica mais ousados e interessantes, este EP corre o risco de se tornar esquecível.

Selo: Humildes
Formato: EP
Gênero: Eletrônica / House, EDM

Antonio Rivers

Me chamo Antonio Rivers, graduando em História, amazonense nascido em 2006. Faço parte do Aquele Tuim, nas curadorias de Experimental, Eletrônica, R&B e Soul.

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