
★★☆☆☆
2/5
Estar sóbrio é, em qualquer situação, um grande feito individual, e merece ser celebrado. A forma como Danny Brown usa esse fato em Stardust vai um pouco além da comemoração: ele quer que vejamos como suas ideias valem ouro diante dessa superação pessoal. O problema é que o disco é, dolorosamente, um dos trabalhos que menos dizem sobre ele, e sobre o que ele quer. Suas ideias são vislumbres que terminam (às vezes nem isso) em uma só música. Suas escolhas são bregas, seus versos beiram o desespero na tentativa de transparecer sinceridade, e seu flow é tão enjoativo quanto qualquer outra coisa. Não há dúvidas de que, quando bem acompanhado, Brown sabe o que fazer, o que dizer e o que revelar em torno de suas explorações narrativas. O que não acontece aqui.
Stardust não adere a conceitos muito elaborados: é a plenitude da sobriedade de um homem em contato com outras cenas e artistas mais jovens. Pena que ele parece não se situar diante do que busca explorar, e o que já era enjoativo torna-se cansativo, redutível. É o caso da faixa de abertura, “Book of Daniel”, que tem versos bem interessantes, como “Was an addict with a habit 'cause this light, couldn't grasp it / Now it's magic when I sit behind this mic with a passion / Sorta like the book of Daniel, was trapped with them lions”, mas que parece não sair do lugar. E pior, conta com o dedo de Quadeca, uma das piores escolhas para colaborar hoje em dia, pois é extremamente difícil – quiçá impossível – ele fazer alguma coisa boa. Brown não se ajuda. A parceria com Jane Remover, que tinha tudo para ser o exato oposto, permanece na mesma casa. Não caminha nem pra frente, nem pra trás.
A impressão que fica é que Stardust nunca atinge o estado que Danny Brown queria alcançar, principalmente no intuito de mostrar competência, vide a ideia de este ser seu primeiro álbum feito enquanto ele estava totalmente sóbrio. O que é, ao mesmo tempo, engraçado e trágico, pois o que pairava sobre seus outros trabalhos era justamente a troca de ideias, a testagem desenfreada de beats e versos que davam substância às músicas. Ele parece ter confundido sinceridade com segurança, pois este é também o seu trabalho menos ousado em todos os sentidos possíveis. Parece querer evitar exageros, e até mesmo as suas próprias marcas. Ele chega ao estúdio, acende o incenso e diz: “limpa, limpa tudo”. Sua elevação de espírito poderia ter sido melhor apresentada. Mudanças de paradigma assim são comuns no hip hop; a questão é que, aqui, ele entrou no caminhão de mudanças e se perdeu no meio da estrada. Vou torcer para que ache um caminho o quanto antes.
Selo: Warp
Formato: LP
Gênero: Hip Hop / Rap