
★★☆☆☆
2/5
Diretamente de Manaus, a banda D’Água Negra apresenta seu disco, SINAL VERMELHO VIDRO PRETO, com a proposta de ampliar o olhar sobre a música produzida na Amazônia. Sob a produção de Daniel Brita, o álbum acerta em cheio ao evocar uma atmosfera de verão muito bem-vinda. Existe um equilíbrio interessante nessa construção: o disco soa solar e acessível, mesmo quando o grupo decide mergulhar em temas mais densos sobre relacionamentos, criando uma dualidade que nem sempre se vê em obras com essa proposta atmosférica.
Musicalmente, o trio opera numa interseção fluida entre o pop e o jazz, com uma incursão muito bem-sucedida pelo smooth jazz. É um trabalho que aposta na consistência, mantendo uma paleta sonora muito fiel do início ao fim. Se por um lado isso traz identidade, por outro, deixa a sensação de que as canções caminham por uma estrada um tanto linear. Para trazer calor a essa "planície" instrumental, a escolha pelo tratamento natural das vozes dos integrantes foi muito assertiva, gerando uma intimidade e uma proximidade bonita com quem ouve, embora não resolva totalmente a falta de variações mais bruscas nos arranjos.
Em "Not in Luv", por exemplo, a banda nos conquista logo de cara com um jazz-pop brasileiro envolvente, mas a canção parece perder um pouco desse encanto natural quando entram os versos em inglês. A mudança de idioma traz uma sonoridade que remete a um pop inglês mais comercial, aquele pop “fast food”, o que acaba distanciando da sofisticação apresentada nos primeiros acordes.
Já "Vinho Tinto" captura com maestria o estilo de música ao vivo, principalmente a de bar, entregando toda a ambientação e o dinamismo que enriquecem o álbum. É uma música que consegue criar um cenário muito próprio, onde são extraídas as melhores qualidades dessa estética. Poderia usar como referência as apresentações feitas em clubes de jazz, mas é nítido que o álbum pega essa ideia e adequa a sua proposta amazônica, então sendo um pouco mais pessoal essa música me coloca como se tivesse escutando música ao vivo no Largo De São Sebastião de Manaus.
No fim das contas, SINAL VERMELHO VIDRO PRETO, é um álbum cuja leitura final fica a critério do ouvinte. Cabe a quem escuta decidir se essa repetição estética é uma construção proposital de identidade – e consequentemente agradável – ou se o caminho escolhido soa retilíneo demais, diminuindo o encanto da obra.
Selo: dobra discos
Formato: LP
Gênero: Música Brasileira / Pop, Smooth Jazz