Crítica | Got Back Tour - São Paulo


★★★★☆
4/5

A segunda noite da tão aguardada turnê Got Back de Paul McCartney em São Paulo foi nada menos que um espetáculo. O eterno beatle proporcionou aos fãs presentes um mergulho nas diferentes fases de sua carreira, atravessando mais de duas horas de pura magia musical. McCartney, demonstrando sua incrível habilidade, transitou habilmente por diversos instrumentos, incluindo piano, violão, guitarra, baixo e bandolim, cativando a plateia com sua destreza musical. Uma das surpresas encantadoras do show foi a interação de McCartney com o público brasileiro. Além de falar em português, incorporou gírias locais como "mano" e "o pai tá on", criando uma conexão única que levou os 40.000 presentes à loucura desde o início.




O espetáculo teve uma leve mudança na escolha da música de abertura, iniciando com "A Hard Day's Night", em vez da habitual "Can't Buy Me Love". No entanto, essa alteração não diminuiu a intensidade do momento, preparando o terreno para uma jornada musical que começou a desabrochar com "Junior's Farm" e "Letting Go". Apesar de considerar a introdução um tanto mais suave do que o usual, a admiração pelo talento de McCartney permaneceu inabalável.




O primeiro contato direto com a plateia ocorreu após essas músicas, quando Paul saudou a todos com um descontraído "Boa noite, mano", desencadeando um frenesi coletivo. O ponto alto chegou com "She's a Woman" e "Got to Get You Into My Life", ambas canções dos Beatles, fazendo com que ninguém na plateia conseguisse ficar parado. Em particular, a última mencionada proporcionou um momento que eu, pessoalmente, sonhava em presenciar ao vivo. A transição para músicas mais recentes incluiu "Come On To Me", do álbum Egypt Station, com Paul brincando sobre ser "uma música nova, um pouquinho nova"; é inevitável destacar que esse dinamismo na escolha do repertório demonstrou a capacidade de McCartney de equilibrar as eras musicais e manter sua audiência envolvida.




Momentos emocionantes e íntimos também marcaram a apresentação, como a interpretação de "Let 'Em In" com Paul ao piano, exibindo, em alguns momentos, a bandeira LGBTQIA+. A dedicação da música "My Valentine" à sua esposa Nancy Shevell, com a exibição do videoclipe estrelado por Johnny Depp e Natalie Portman, foi um toque de ternura. Surpreendentemente, "Maybe I'm Amazed" não foi dedicada à sua falecida esposa Linda desta vez, mas ainda assim, a voz de Paul adicionou uma camada de emoção à performance.




A incursão pelo passado trouxe "In Spite of All the Danger", uma jóia dos tempos do Quarrymans, antes mesmo dos Beatles serem os Beatles. McCartney fez um esforço notável para capturar a atenção do público, que se entregou à música do início ao fim. A onda nostálgica continuou com "Love Me Do", uma escolha que conquistou facilmente a plateia.




A habilidade de McCartney em explorar diferentes instrumentos brilhou novamente durante "Dance Tonight", destacando o som envolvente do bandolim. A performance foi elevada pela dança de Laboriel Jr., o baterista, que conquistou o público com seu carisma contagiante. O momento mais íntimo e emocionante da noite foi a execução de "Blackbird", onde a estrutura elevatória adicionou uma dimensão mágica à apresentação. A homenagem a John Lennon com "Here Today" foi marcada pela exibição de placas com a frase "John vive para sempre", seguida por um coro espontâneo de "give peace a chance". Paul, sempre atento à reação do público, improvisou, atendendo ao desejo da multidão. A surpresa veio com a dedicatória de "Jet" a Denny Laine, guitarrista do Wings, falecido recentemente. McCartney, ao elogiar a animação da plateia, deu início a "Being for the Benefit of Mr. Kite" e engatou em "Something", uma homenagem a George Harrison que começou com um ukulele e evoluiu para a participação de toda a banda.




O clímax da noite chegou com "Let It Be", um momento de profunda emoção que ecoou por todo o estádio. A multidão, visivelmente emocionada, transformou os celulares em estrelas, criando uma constelação de luzes. O contraste veio com a explosiva "Live and Let Die", seguida pela extensa e cativante "Hey Jude", que envolveu a plateia em um coro participativo de "Na na na na, hey Jude", perdurando por quase 10 minutos.




O bis começou com "I've Got a Feeling", acompanhado pela voz e imagem de John Lennon, criando um momento mágico que fez parecer que o músico estava presente. "I Saw Her Standing There" assumiu o lugar de "Birthday", adicionando uma nota clássica à noite. A abertura de "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" deu início a uma sequência final explosiva, culminando em "Helter Skelter", caótica e inesquecível. O aviso de Paul de que era hora de encerrar trouxe uma mistura de sentimentos, mas a trilogia final de "Golden Slumbers", "Carry That Weight" e "The End" proporcionou um encerramento grandioso à inesquecível Got Back Tour.




Paul McCartney, mais uma vez, demonstrou estar em seu auge, entregando um show que transcendeu as expectativas. Seu dom de entreter o público é incomparável, criando a sensação de que as 2 horas e meia de espetáculo passaram como um minuto. O legado musical de McCartney continua a brilhar, e esta noite em São Paulo certamente permanecerá na memória dos fãs como uma experiência única e eterna.
Brinatti

Graduando em Ciências Sociais, com ênfase em Antropologia e Sociologia, 27 anos. É editor e repórter do Aquele Tuim, em que faz parte das curadorias de MPB, Pós-MPB, Música Brasileira e Pop.

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