Crítica | Big Sigh


★★★★☆
4/5

Quando estão passando por um período de escassez de água, as plantas entram num estado de “estresse hídrico”. Quando estão nesse processo, diminuem o número e a qualidade de suas produções. No entanto, este não foi o caso de Marika. Vendo a partir de uma analogia, a cantora seria uma árvore e a seca seria o árduo procedimento tomado para a composição de seu fruto mais saboroso, Big Sigh. A pressão e perturbação acelerou a confecção do disco, por mais que se pudesse imaginar que fizesse o exato oposto.

Na tentativa de acender uma faísca de inspiração que gerasse o fogo necessário para alimentar sua mente criativa, Marika se sujeitou a investigação de suas memórias mais dolorosas, como o fim de seu relacionamento conturbado e sua luta contra a ansiedade. E essa sua investida gerou uma obra sensível, com uma produção receptiva a emoções labirínticas, mas com a escrita firme o suficiente para conseguir traçar o caminho correto até o coração de seu ouvinte. Em “No Caffeine”, a cantora escreve habilmente sobre uma lista inoperante de afazeres para cumprir na tentativa de sanar sua perturbação, juntamente do alvoroço impetuoso de trompetes, violinos, piano e bateria, que simulam sua inquietação.

Durante as gravações de Big Sigh, Marika não conduziu o caminho que seus sentimentos iriam seguir, ao invés disso, ela optou por criar a partir da espontaneidade. Na criação da faixa-título, estava apenas tocando sua guitarra descontraidamente quando um riff em específico se distendeu de seu instrumento, chamando sua atenção, e então, subitamente, estruturou a melodia da canção e adicionou a percussão calibrada da bateria e do baixo. Em “The Ground”, se absteve de compor mais de duas linhas, deixando a sua produção nebulosa e intangível tomar conta do ambiente e sua voz servir apenas como mais uma peça do mecanismo. E essa tomada de decisão deixou o álbum muito autêntico e dinâmico, se diferenciando de outros lançamentos no meio indie rock que se estagnam nas mesmas ideias óbvias e supérfluas de sempre.

Big Sigh, pelas palavras de Marika, foi o maior desafio que teve de enfrentar em toda a sua carreira, mas gostaria de adicionar que sua vitória foi o seu maior triunfo enquanto musicista. Agora, depois de ter vislumbrado o desbravamento de novas formas de se fazer música, tudo indica que daqui em diante só irá melhorar artisticamente. E eu, enquanto admirador de sua arte, não poderia estar mais animado com isso.

Selo: Chrysalis
Formato: LP
Gênero: Rock / Indie Rock, Singer-Songwriter, Indie Folk
Bruno do Nascimento

Sou Bruno, tenho 18 anos, sou autista, paraibano, escritor e estou terminando o Ensino Médio. Amo escrever e comentar sobre música onde passo, inclusive no Aquele Tuim, em que faço parte da curadoria de Música Brasileira e Pop.

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