Crítica | The Celebration Tour In Rio



★★★★★
5/5

Comprovando sua relevância até os dias de hoje, a rainha do pop comemorou seus 40 anos de carreira com um show gratuito em Copacabana no dia 04/05, que contou com a presença de 1,6 milhão de pessoas, tornando-se um dos maiores shows da história em número de audiência e, principalmente, o maior já feito por ela.

O atraso no início da apresentação não diminuiu a agitação causada no Rio de Janeiro. A cantora conseguiu transformar as areias da praia de Copacabana em um espetáculo emocionante e também em uma grande pista de dança com seus diversos sucessos. Ela é pioneira na criação de eventos musicais de forma teatral e claro que não faria diferente em uma celebração de sua carreira que teve mais de duas horas passeando pela história de sua vida, marcada por hits e fases musicais.

A única coisa que realmente me frustrou foram os problemas técnicos que deixavam o som baixo, dificultando a compreensão das falas da cantora e até mesmo o reconhecimento inicial de algumas músicas. No entanto, a presença do público apaixonado conseguiu relevar esse problema com seu amor contagiante por Madonna, que é uma das artistas mais importantes da história.

Madonna iniciou seu show com músicas dançantes do início da carreira, como “Everybody”, “Into The Groove” e “Burning Up”, e depois passou para a balada “Live To Tell”, que foi o momento mais emocionante e sensível de todos. Nele, a rainha presta homenagem aos que morreram de AIDS, e entre os homenageados estavam os amigos dela e alguns famosos como os brasileiros Cazuza, Renato Russo e Betinho.

A cantora sempre esteve muito envolvida com questões sociais e falava abertamente sobre a epidemia da doença desde a época em que as informações sobre o vírus eram poucas e as vítimas sofriam apagamento, agressões e negligência tanto do Estado quanto da população, que associava e segue associando a doença à comunidade LGBTQIA+ até os dias de hoje. A apresentação, então, foi interrompida por David Banda, filho de Madonna, que tocou violão na música "Act of Contrition" antes de a cantora encerrar o ato com o clássico "Like a Prayer", cujo público cantou com toda força do mundo.

O terceiro ato do show foi marcado pela sensualidade. Mesmo aos 65 anos, Madonna mostrou que sensualidade, sexualidade e liberdade sexual nada têm a ver com idade. Foi altamente provocante, com simulação de masturbação e sexo oral no palco — nos momentos mais chocantes para a crentaiada, ela também beijou uma bailarina. O ato terminou com a música "Bad Girl", que possui participação especial de Mercy James, filha cantora, que participou da música tocando piano.

Celebrando a cultura ballroom, chegou a vez de “Vogue” transformar o palco em um baile onde Anitta aparecia como uma das juradas do desfile dos dançarinos. A apresentação também teve a presença das filhas gêmeas da cantora: primeiro Estere, que surge ao palco como DJ e depois Stella, que faz parte da trupe que disputa uma espécie de batalha de dança, encerrando aquele momento após alguns rapazes de jockstrap exibirem suas nádegas salientes e encenar sexo oral em Anitta — outro momento que deu o que falar.

No ato seguinte, os destaques foram a versão acústica de "Express Yourself", o hit "La Isla Bonita" e a também icônica "Music", que contou com jovens ritmistas de escolas de samba e também com a presença de Pabllo Vittar, que dançou com Madonna enquanto vestia uma camiseta do Brasil e personalidades importantes eram exibidas no telão (de Che Guevara à Irmã Dulce, de Pelé à Mano Brown, de Maria Bethânia à Erika Hilton). Esse foi o momento em que o público mais vibrou na noite. Depois foi a vez de “Bedtime Story” e “Ray Of Light”, que relembraram muito a essência energética dos anos 90 e o ato terminou com a calma de “Rain”.

Por fim, chegamos ao último ato, que começou com um interlúdio em homenagem ao Rei do Pop, Michael Jackson. A apresentação foi composta por números de dança com medley de "Billie Jean" e "Like a Virgin", alguns dos maiores sucessos dos dois artistas. Fotos de Madonna e Michael juntos apareceram nas telas, tornando o momento ainda mais especial. Em seguida começou a apresentação das divertidas "Bitch I'm Madonna" e "Celebration" com dançarinos vestidos com trajes marcantes de todas as épocas de Madonna, encerrando o show de uma forma que realmente celebrou toda a história da diva do começo ao fim.

O show recebeu muitas críticas de conservadores com comentários machistas, misóginos e também homofóbicos direcionados ao público, cuja maioria faz parte da comunidade LGBTIQIA+. Madonna escolheu o lugar certo no Rio de Janeiro para uma performance provocativa, porque em Copacabana a maioria dos moradores são ricos e conservadores, e isso certamente irritou ainda mais essas pessoas de mente fechada.

E Madonna, por sua vez, é uma figura essencial para o enfrentamento das desigualdades causadas principalmente por esse tipo de gente. É completamente admirável ter uma mulher aliada a causas importantes e que cutuca destemidamente a hipocrisia da sociedade. E ela faz tudo isso desde muito jovem, lutando contra muitas imposições sexistas e misóginas. Realmente… nunca teremos outra Madonna.
Vit

Sou a Vit, apaixonada pelo universo musical desde que me entendo por gente, especialmente por vocais femininos. Editora e repórter no Aquele Tuim, onde faço parte das curadorias de Pop, MPB, Pós-MPB e Música Brasileira.

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