Crítica | Dark Times


★★★★☆
4/5

Vince Staples não é novo no jogo. Com cinco álbuns, algumas mixtapes, prêmios e nomeações, o americano natural da Califórnia sempre foi um nome de destaque no hip hop, talvez não da forma que merecesse. Seja colaborando com SOPHIE em seu aclamado Big Fish Theory (2017) ou no lançamento da mixtape FM! (2018), Staples tem se mostrado fora da curva, disposto a experimentar em produções mais disco ou diferentes tempos de melodia.

Tal experimentação não acontece aqui, mas não para seu detrimento. Dark Times, seu sexto álbum de estúdio, segue uma linha sonora similar a de seu antecessor, RAMONA PARK BROKE MY HEART (2022), exceto que se apresenta mais sucinto e direto, tanto tematicamente quanto na entrega. O tom mais sombrio do disco, presente na capa e nas produções, mostra um tom de introspecção que difere das ruminações sobre adolescência em seu trabalho anterior. Aqui, Vince encara a face de 30 anos e discorre sobre ser adulto e as complexidades dessa nova fase da vida.

Ele contempla a solitude e o isolamento, mas ainda assim traz um tom mais esperançoso. O rapper parece viver mais no presente, como canta em faixas como “Freeman”. A abordagem lírica é mais objetiva e continua trazendo versos excelentes. O título do álbum reflete bem o conteúdo da obra, agora que Vince não escapa da vida adulta. Pelo disco, Staples aborda as dificuldades no início da carreira em contraste com o sucesso que tem hoje, a inspiração que é para novatos, além das clássicas crônicas de relacionamentos.

As instrumentações não fogem do hip hop como sua tese principal, mas apresentam belos flertes com R&B e toques de soul espalhados. No mais, Dark Times soa como o contínuo aperfeiçoamento da sonoridade que tem explorado em seus últimos dois trabalhos, atingindo seu melhor ponto aqui, evidente em “Black&Blue” e “Little Homies”, além da interpolação de Lauryn Hill em “Nothing Matters”.

Dark Times pode acabar caindo no esquecimento, seja pela falta de promoção ou pelo lançamento repentino, mas é evidente que o disco é essencial para a lapidação de Vince Staples como artista. É resultado de uma construção pessoal e de persona, passada a fase de lamentação nas lembranças e atingindo uma sensação de pertencimento no agora. Mesmo o potencial esquecimento não impede o disco de ser um de seus melhores projetos.

Selo: Def Jam
Formato: LP
Gênero: Hip Hop / Hip Hop Consciente
João Agner

joão agner (2003) é escritor e graduando de jornalismo. escreveu sua primeira história aos oito anos, e tem explorado diversos formatos desde então, como não ficção e poesia. é fascinado por música desde sempre.

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