Crítica | Micro-Usina


★★★★☆
4/5

Marco Benvegnú, mais conhecido como Irmão Victor, é um artista gaúcho cujo repertório se destaca devido à sua singularidade de prática canora. O mais interessante disso tudo é perceber e entender que a construção do álbum parece emergir diretamente da essência de Marco em assumir seu projeto, algo que raramente encontramos quando se tem essa dualidade do entre o fazer artístico e o seu autor.

Ao fechar os olhos, somos transportados para uma era reminiscente do que os Mutantes faziam, um delírio satisfatório e relaxante, em que o artista brinca e possui um flerte sutil com o rock psicodélico dos anos 60, carregado de surrealismos e experimentações. Além disso, a suavidade e a harmoniosidade se entrelaçam com guitarras que exibem uma diversidade de efeitos, por vezes mescladas.

O álbum, como um todo, revela-se através do seu ritmo como um fluxo musical marcante e que se une a instrumentos responsáveis por expressar os sentimentos do eu lírico, abafando a angústia ao mesmo tempo que permite penetrar a alma do ouvinte como, por exemplo, em "Sweet Jesus Waterfalls", que desponta como uma resistência à morte e à solidão, uma reflexão as vulnerabilidades da vida que se apresenta como um palco a ser preenchido.

Nota-se, em tudo isso, como as canções exploram as diversas faces da experiência do indivíduo, desde o desejo de proteção em meio a sensação de se sentir corrompido, até a sensação de desorientação e angústia, passando pela fuga rumo a um lugar imaginário, a perda da sanidade e a busca por conforto espiritual. Nisso, cada faixa é colocada como um fragmento de um desafio emocional, criando um mosaico que nos convida a mergulhar nas profundezas da alma do artista.

Selo: Seloki
Formato: LP
Gênero: Rock / Música Brasileira
Brinatti

Cientista social com ênfase em Antropologia e Sociologia, 27 anos. É editor e repórter do Aquele Tuim, participando das curadorias de MPB, Pós-MPB, Música Brasileira e Pop.

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