Entrevista | dadá Joãozinho


Uma entrevista com o cantor, compositor e produtor sobre sua carreira, seu disco tds bem Global e suas perspectivas acerca da atual música brasileira.

Natural de Niterói, Rio de Janeiro, dadá Joãozinho começou sua carreira como integrante do grupo musical ROSABEGE, apesar de tocar desde os 14 anos de idade. No ano passado, ele fez sua estreia solo (com disco) com o álbum tds bem Global, um dos melhores não apenas de 2023, mas da década de 2020 até então. Refrescante e centrada na transição de espaço entre Rio e São Paulo, a obra foi alcunhada de diversas formas, principalmente por passar por diversos signos da música brasileira. Para falar um pouco sobre esse momento em sua carreira e outros assuntos, batemos um papo com dadá. Confira:

Felipe: Antes da gente começar, gostaria de perguntar como você prefere ser chamado?

dadá Joãozinho: Pode ser dadá ou pode ser João. Como vocês preferirem.

Felipe: Ok.

dadá Joãozinho: Bom, primeiro boa noite a todo mundo, é um prazer estar aqui com vocês. Brigado pelo espaço!

Felipe: Prazer também! Agradecemos muito você ter aceitado falar com a gente! A primeira pergunta é sobre um tema bastante recorrente em tds bem Global, que é a sua mudança do Rio para São Paulo, e como isso afetou você pelas diferenças de como essas duas cidades são. Eu queria saber mais sobre isso, como foi para você essa troca de cenários e como isso tem influenciado na sua produção artística desde então?

dadá Joãozinho: Então, eu acho que esse álbum é um álbum do momento justamente da transição, né. Tem algumas músicas que eu canto já vislumbrando essa passagem, tem outras após essa mudança. Então eu acho que é um álbum que se dá justamente nessa transição e na tomada de consciência desse novo mundo que se abre pra mim a partir dessa mudança. E, coincidentemente, tem a pandemia no meio, que é um momento em que a globalização, da forma que ela é construída, ficou escancarada pra todo mundo. Então todo mundo estava o tempo inteiro conectado e eu dentro dessa cidade nova, uma cidade gigante. Então eu fui muito atravessado por essas questões todas assim. Acho que no momento que eu cheguei na cidade eu tinha uma concepção do que eu faria artisticamente, eu sabia que ia fazer um álbum, mas eu não sabia que ia fazer esse álbum, que se revelou a partir dessa vivência, sabe? Então acho que é desse momento de mudança, de expansão da perspectiva do que é a realidade, de quem sou nesse mundo, sabe? Quando você sai de uma cidade, que eu nem sou do Rio de Janeiro, sou de Niterói, que é uma cidade vizinha do Rio. Então, acho que com certeza, claro que a mudança geográfica impactou muito e segue impactando e segue inspirando a novos saltos assim.

Felipe: Niterói é da região metropolitana do Rio de Janeiro, né?

dadá Joãozinho: Isso, exatamente. É logo a cidade vizinha que tem uma ponte muito famosa.

Felipe: O deslocamento, de estado ou região, geralmente se dá por inúmeros motivos. Um dos principais, como todos sabemos, são as oportunidades. Você acredita que a busca pelas oportunidades devem mover os artistas ou isso é apenas algo secundário do fazer artístico?

dadá Joãozinho: Olha, eu não acho que existe uma regra. Acho que cada um tem que agir de acordo com o que faz sentido. Eu tenho essa conversa muitas vezes, porque a gente que é de fora (interrompe e pergunta: vocês moram aqui em São Paulo?);

Felipe: O Maq é do estado de São Paulo, eu moro no Ceará e a Sophia na Bahia.

dadá Joãozinho: Total. Então, aqui em São Paulo tem muitos amigos nordestinos, muitos amigos do sul. E o pessoal que não é de São Paulo acaba se juntando muito aqui. Conseguimos compartilhar muita experiência, então a gente discute muito sobre isso, sobre o que leva a gente a vir pra São Paulo. E eu vou falar por mim, que num primeiro momento, eu comecei a vir tocando em outros projetos, tocando com o ROSABEGE e tal. O meu encantamento primeiro foi com a cidade, e menos com a perspectiva de trabalho. Eu acho que depois uma coisa corroborou a outra, sabe? Eu comecei a olhar a cidade e falei assim: “Não, cara. Eu quero morar aqui, quero passar um tempo aqui — não uma coisa definitiva, né —, mas quero morar um tempo aqui”. Aí pensei: “Pô, acho que vai ser bom, vai ter muita conexão”. Mas eu não acho que isso é uma regra. Tenho vários amigos que não fizeram esse movimento e estão super na razão também. Acho que se as coisas funcionam bem na sua cidade, se você tem um ecossistema que funciona ali, se você age a partir disso dentro de uma cultura local, acho que isso é super válido e que não tem nenhuma regra que diz que a pessoa deva vir pra cá. Na verdade, eu acho bem problemático isso. Parece que todo mundo acha que você deve vir, e na verdade, não. Acho que se você quer, aí sim deve.

Felipe: E como tu falou dos artistas, do ecossistema, gostaria de perguntar quais artistas inspiraram de alguma forma seu trabalho? Você acha que quem escuta esses artistas pode também se interessar por sua música?

dadá Joãozinho: Quais artistas inspiraram esse trabalho?

Felipe: É, pode ser sobre o tds bem Global.

dadá Joãozinho: Eu acho que muitos artistas inspiraram esse trabalho. Eu vou dizer um que foi o meu norte maior, no momento que eu virei a chave e falei: “Esse álbum se chama tds bem Global, essa é a energia”, eu comecei ouvir obsessivamente Bob Marley. Assim, o dia inteiro. Mas tem uma referência que as pessoas pegam muito assim, e que foi uma obra que eu mergulhei muito nessa chegada em São Paulo, que foi o Itamar Assumpção. Um cara que está super em alta, que as pessoas estão voltando a revisar o trabalho dele. Eu acho que quando cheguei em São Paulo eu fui muito na obra dele até pra entender que cidade é essa. Então acho que entendi muito São Paulo a partir da ótica dele também.

Felipe: Tu chegou a ouvir muito o Sampa Midnight?

dadá Joãozinho: Ouvi o Sampa Midnight, mas ouvi muito o primeiro álbum, o Beleléu. Ouvia muito o Beleléu. Mas tem muitas outras influências, falar um ou dois é sempre reduzir o aspecto da coisa.

Felipe: Verdade! E assim, tu chegou a falar do seu trabalho no ROSABEGE, mesmo que de passagem, só que reouvindo o Imagem, álbum de estreia do ROSABEGE, de 2019, é possível traçar uma diferença criativa entre o grupo e o seu trabalho solo. Por exemplo, o Imagem tem uma vibe sonora mais sutil e intimista, ao contrário de tds bem Global, que já oferece uma experiência auditiva cheia de paletas sonoras. Qual é a diferença entre trabalhar como uma banda e trabalhar solo? Você sentiu alguma dificuldade nesse processo?

dadá Joãozinho: Eu acho que foi uma transição interessante, porque sinto que a gente tá sempre em mutação. Então eu acho que se eu fosse gravar um álbum com uma banda hoje seria completamente diferente a experiência de como foi né. Primeiro que a gente era muito jovem, e tava se entendendo enquanto criadores e pessoas que têm sonhos a se realizar. Por mais que tenha sido muito bom trabalhar com eles numa dinâmica de grupo mais fechado, onde todo mundo tava muito íntimo das coisas que estávamos fazendo, era um processo de muita intimidade. Essa virada pra fazer o tds bem Global me possibilitou, também, trocar com muitas pessoas. Então eu acho que em momento algum foi um processo solitário, mas foi um processo em que eu me abri pra uma coletividade expandida, sabe? Que não tava fechado ali em quatro pessoas fazendo um álbum.

Felipe: Ainda quanto às colaborações, e indo além de tds bem Global, a nossa redação também gostou muito de Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua, de Ana Frango Elétrico. E, aliás, você e Ana trabalharam juntos em algum momento, desde o ROSABEGE, né? Como é essa amizade entre vocês? É algo que está no nosso imaginário.

dadá Joãozinho: Cara, foi muito interessante assim, a aproximação. Eu lembro de ouvir o primeiro álbum de Ana e aí eu tive a sensação de que a parada dela era diferente. Eu não a conhecia pessoalmente, e só fomos nos conhecer justamente dessa colaboração com ROSABEGE. Daí foi um dia super especial no estúdio, a gente curtiu muito, e desde lá a gente é parceiro. Mas cada um também tem muito espaço. Agora Ana está aqui em São Paulo, então a gente se encontra com um pouco mais frequência. Mas é isso, uma parceria de admiração mútua, sabe? De uma curiosidade mútua com o universo de cada um.

Felipe: Ana fica muito no Rio, né?

dadá Joãozinho: Agora, se não me engano, fica mais em São Paulo. Não tenho certeza.

Felipe: A característica mais proeminente de tds bem Global é a sua versatilidade; a forma como você trabalhou sua sonoridade, desconstruindo e combinando elementos de diversos estilos musicais diferentes. Essa qualidade foi um dos pontos mais elogiados na obra. Como foi, para você, trabalhar dessa forma? Foi difícil?

dadá Joãozinho: Cara, eu acho que seria difícil pra mim naquele momento ter feito uma coisa num estilo só. Eu fui muito sincero pra onde as músicas me levavam. Eu toco desde os catorze anos — agora tenho vinte e seis — com banda, né. Eu toquei muita música desde o início, passei por várias pesquisas diferentes, e o ROSABEGE foi uma escola de produção gigante, onde eu cheguei e falei: “Se eu estudar uma parada aqui, me aprofundar numa leitura, vou conseguir fazer a minha versão disso”. E quando chegou em tds bem Global fui lembrando de muita coisa da minha história, e só deixando fluir, tipo, o que era interesse meu contemporâneo naquele momento da produção, mas de coisas que vinham lá de trás também. Então, tipo, tem faixas como “Habitual” que não é rock, e eu cresci na adolescência tocando rock. Eu queria que tivesse uma coisa assim, mas eu acho que tem no geral, mas só fluiu, sabe? Não foi algo muito…

Felipe: Pensado, né?

dadá Joãozinho: É, mas depois eu pensei: “Cara, eu tenho muita coisa e muita direção, como que eu vou costurar isso conceitualmente, se vai fazer sentido”. É uma coisa que… Foi tudo parte do processo.

Felipe: Eu consegui sentir muito bem essa intuição quando eu estava ouvindo pela primeira vez, porque dá para perceber essa questão da versatilidade, ou dos temas. Tava tudo muito visceral pra ti.

dadá Joãozinho: Totalmente!

Felipe: Ainda quanto à produção, você possui algum método próprio, algum ritual ou coisa do tipo na hora de escrever?

dadá Joãozinho: Não, não. Cada música vem de uma forma. Às vezes vem a letra, às vezes vem o instrumental e às vezes vem tudo junto. Ou vou pro estúdio já com uma base. Nesse álbum tiveram algumas músicas que fui com a canção, e aí produzimos em cima. Outras já nasceram a partir da produção. Então não tem um guia, cada música tem o seu caminho.

Felipe: Sei… Sabe me dizer de cabeça algum exemplo? De tipo: “Ah, essa canção primeiro com a produção, ou essa com a canção”?

dadá Joãozinho: Aham. Então, “Ô Lulu”, “Pai e Mãe” e… “Outro Momento”, “Habitual”, “BANHO”... essas são algumas que já tinham canção e a gente trabalhou por cima. Fizemos os arranjos. Ai outras tipo “VEJA”, “CURA” e “na Brisa”, que dá pra perceber na própria escolha da produção, que veio antes. Às vezes é uma coisa de produção mais eletrônica, digital, fiz o instrumental e cantei por cima!

Felipe: Eu consigo perceber isso em “Pai e Mãe”, que é a minha favorita do álbum. Essa especificamente mexeu muito comigo.

dadá Joãozinho: Total!

Felipe: Como você enxerga a ação do tempo no seu trabalho? Como você imagina que o tds bem global será visto daqui uns anos?

dadá Joãozinho: Foi curioso você falar de “Pai e Mãe” e dessa questão do tempo, porque eu acho que vai ser um álbum bem visto pela energia que ele trouxe, e pelo impacto singular que teve — não tô falando de números — do sentimento de quem conectou com a coisa. Mas quando eu ouço as pessoas falarem de “Pai e Mãe”, pessoas muito diferentes, sabe? Jovens e pessoas mais velhas, pais e amigos, enfim. Eu sinto que essa é uma música que provavelmente eu vou cantar a minha vida inteira, porque as pessoas vão pedir essa. E isso pra mim é uma prova do tempo.

Felipe: Eu concordo (risos), também acho isso!

dadá Joãozinho: (risos).

Felipe: Para você, existe algum limite quanto à composição? Seja na abstração de suas ideias ou mesmo pensando no que o ouvinte pode ou não gostar. Algo que você para e pensa: “Uau, acho que passei dos limites, deve parar por aqui”?

dadá Joãozinho: (risos) Bom, eu não sei. Acho que quando vai fazendo, o primeiro expurgo assim é mais livre. E eu nem sou uma pessoa muito de edição, no sentido da composição das palavras. Eu sou super aberto a ouvir o que as pessoas que trabalham comigo têm a dizer, e acho que se uma coisa tá soando estranho, se a intenção que eu quis não está bem traduzida, eu sou muito aberto a rever isso. Mas acho que isso não é necessariamente limite, mas tipo eu ser fiel a minha intenção e dizer o que quero dizer mesmo.

Felipe: Tem algum tema, algum ponto ou alguma colocação narrativa pessoal que você acredita ser indispensável na hora de dar vida às suas canções?

dadá Joãozinho: Eu acho que quando tô compondo sou muito do momento. Do que eu tô sentindo, do que está passando em minha vida, de urgência para eu comunicar, seja um amor, uma paixão ou uma frustração. Alguma insatisfação, alguma ansiedade, alegria ou saudade. Não sei. O que eu tiver sentido na hora vai acontecer. E eu sou muito aberto a cruzar temas. As músicas falam de muita coisa ao mesmo tempo. Raramente consigo fazer uma coisa que fale de uma coisa só.

Felipe: Existe uma expectativa sobre o que viria a ser essa “nova MPB”, ou mesmo como muitos chamam: “pós-MPB”, pois embora alguns nomes remetam aos conceitos estilísticos e estéticos da antiga MPB, há uma diferenciação substancial de época nisso. Como você se vê nesse cenário?

dadá Joãozinho: (risos) Olha, eu não sei o que é pós-MPB… Tem como dizer alguém que é? Pra eu saber dialogar melhor…

Felipe: Então, existe uma questão sobre alguns artistas que podem pegar referências, se inspirar nesses grandes nomes da MPB, mas que não são da MPB, do passado. É outra coisa.

dadá Joãozinho: É… acho que existem muitos movimentos simultâneos, né? Existem pessoas que são muito fieis a essa tradição, enfim. Fazem isso da sua maneira. E outras que estão interessadas em construir outra sonoridade. E eu me vejo muito nesse movimento. E quando tô fazendo vou cruzando minha vida com minhas referências, e em algum momento vai passar por Djavan, Gilberto Gil e Marisa Monte, que são artistas que eu amo. Mas eu não sei. O que você acha? (risos).

Felipe: (Ri). Cara (risos), eu também não tenho uma opinião completamente formada sobre isso. Mas concordo com o seu ponto de que muitos artistas estão buscando fazer novas coisas, em relação às suas influências…

dadá Joãozinho: Sim, sim!

Felipe: Principalmente porque a gente tem uma música brasileira que é muito diversa…

dadá Joãozinho: Exatamente, exatamente!

Felipe: Muitas tendências, músicas novas e diversos espaços. E eu consigo pensar que é muita diversidade para encaixar apenas nisso, né?

dadá Joãozinho: É. Eu tenho um problema com isso, porque eu acho que às vezes parece que é esperado de alguns artistas que eles deem uma continuidade histórica, de uma coisa que foi feita lá atrás. Mas, tipo, a gente vive num outro tempo. Por exemplo, eu ouvi pra caramba agora no ano passado o álbum do Tz da Coronel, que é um MC lá do Rio de Janeiro. Pra mim foi um grande álbum; eu não vi o álbum em nenhuma lista, das que falam que é dos melhores álbuns do ano. Então, tipo assim, que ótica é essa, sabe? Pra onde tá se olhando quando tá se falando do que é a melhor música brasileira? Aí parece que quer dizer que a melhor (música) é a que mais se parece com a antiga.

Felipe: Inclusive a próxima pergunta é justamente sobre isso, que bom que tu tocou nesse ponto. Hoje em dia se fala muito de pop nacional, com nomes como Jão, Marina Sena, Luiza Sonza e IZA. Embora nenhum deles seja consenso de aclamação de crítica e público, ainda assim estão em todo lugar. Você acha que de fato haja um favorecimento midiático, ou o produto deles é suficientemente capaz de atrair tanta atenção quanto nomes mais alternativos?

dadá Joãozinho: Cara, eu acho que é muito complicado. Eu tô tocando aqui em assuntos que eu tô pensando com vocês aqui agora, tipo, é isso. Mas eu acho muito complicado porque a gente vive num país em que a grande indústria musical é a indústria movida pelo agronegócio, né? Eu sinto que existe por parte dos jornalistas e por parte de uma mídia cultural, uma contramão disso de elevar outras coisas, né? De alguma forma. Se eu tiver viajando vocês me corrijam, por favor (risos).

Felipe: (risos) Não, pode contar falando, a gente tá querendo isso mesmo!

dadá Joãozinho: (risos) Aí eu não sei. Eu acho que com certeza, essas pessoas que você falou fazem música pop. Sem dúvidas. Mas eu não sei o alcance que isso tem no Brasil adentro, porque não estou em todos lugares, tô aqui em São Paulo agora, e eu não escuto tudo isso na rua. Escuto outras coisas na rua. Mas se eu for num lugar mais alternativo, aí é capaz de eu ouvir. Realmente, é uma disputa muito difícil, uma disputa cultural muito difícil. E se essas pessoas, que têm essa estrutura toda, ainda estão numa briga muito difícil, imagina nós, que tamo aqui no lado quase independente da coisa. Então é uma briga difícil…

Felipe: É. A gente acaba sempre entrando nessa questão, mas não só de disputa, mas de investimento também.

dadá Joãozinho: Total!

Felipe: Porque isso acaba fazendo com que nomes mais alternativos, ou que não têm tanto investimento, não chegue em tanta gente.

dadá Joãozinho: Sobre isso, de investimento, eu acho que existe, infelizmente, uma sensação dentro desse cenário que é de cada um por si, entendeu? Então cada um vai fazendo o seu e tá todo mundo fudido. E os caras lá só estão grandes porque se organizaram mó tempão, sabe? Criaram uma estrutura pra funcionar pra eles. Eu acho que se as pessoas estão interessadas, aí entra na política, em criar uma pós-MPB que seja, ou qualquer sigla, precisa se organizar de alguma forma, coletivamente, sabe? Caso contrário vai ser esmagado pela história, não tem jeito…

Felipe: Tem uma pergunta que estamos fazendo para vários artistas, que é sobre a monetização das plataformas. Vimos que você, além do Spotify, também soltou o álbum tds bem Gobal no Bandcamp, que é uma plataforma mais justa em relação ao pagamento. Você sentiu alguma diferença quanto a isso?

dadá Joãozinho: Eu acho que o Bandcamp, vamos dizer, tem um repasse mais justo, mas o alcance dele é ínfimo. Um artista no Brasil não tem como, falando de música popular, disputar popularidade se tá no Bandcamp. E de todas as plataformas, o Spotify é muito, muito na frente dos mais usados. A gente tá à mercê dessa estrutura enquanto não houver nenhum tipo de regulamentação dessas plataformas, via Estado ou seja lá como. Enfim, estamos vulneráveis. Precisamos de regulamentação e de organização para que a coisa tenha um valor mais coerente com o trabalho que a gente faz e o impacto que isso tem na vida das pessoas, de fato. Eu não tô falando de milhões de pessoas, mas posso falar de milhares. E isso já é uma coisa, sabe?

Felipe: Saindo um pouco desse tópico, a gente queria pedir pra que você, se pudesse escolher, teria algum artista ou produtor hoje, no mundo inteiro, que gostaria de fazer uma colaboração?

dadá Joãozinho: Legal, Legal. Cara, eu gostaria muito de conhecer e fazer alguma coisa junto da Arca.

Felipe: Ah! Adoria uma colaboração entre vocês!

dadá Joãozinho: Isso aí ia ficar quente (risos). Tô pensando mais alguns aqui, que daria uma liga maneira… Mas acho que vou deixar por isso mesmo (risos).

Felipe: Não, só a Arca já é…

dadá Joãozinho: Muita coisa!

Felipe: Já é muito, porque ela é incrível!

dadá Joãozinho: Exato!

Felipe: Poderia nos dizer, num horizonte próximo ou não, em que você anda pensando para o futuro?

dadá Joãozinho: Tem muita coisa, mas eu tô (tosse) mantendo em segredo. Esse é um trabalho que a gente faz, que lida com o tempo o tempo inteiro, né? Então, tipo assim, a gente tá fazendo uma coisa agora e que vai sair daqui a não sei quanto tempo. Às vezes eu não me antecipo em falar algumas coisas, mas eu acho que essa conversa veio a calhar com muitas coisas que tenho pensado, até com essa questão de como dialogar com as pessoas, como estar mais… dentro de um sistema comunitário, que essa música sirva as pessoas. Então a minha intenção está se colocando muito nesse lugar. Acho que o tds bem Global foi um disco essencial pra eu me entender como pessoa e artista nesse mundo; qual é o meu trabalho, de fato. E agora eu tô me debruçando nisso.

Felipe: Tem algo que você gostaria de indicar para nossos leitores ouvirem, seja um disco, uma música ou qualquer coisa que você esteja viciado no momento?

dadá Joãozinho: Eu quero indicar o trabalho do meu irmão JOCA, que é lá de Niterói também. E todo mundo fica atento que ele vai vir com um álbum quente esse ano aí.

Felipe: Esses dias mesmo eu tava ouvindo o álbum dele de 2019, A Salvação é Pelo Risco: O Show do JOCA, numa viagem de volta que eu fiz, e ele é sensacional! Já tô ansioso!

dadá Joãozinho: Eu ficaria ansioso também! Tá demais! (risos).

Felipe: Essas foram nossas perguntas. Primeiro gostaria de agradecer por ter aceitado fazer essa entrevista, com suas respostas que foram incríveis.

dadá Joãozinho: Eu que agradeço demais pelo espaço, pela oportunidade aqui. Fico muito feliz que meu trabalho esteja ressoando aí e que vocês estejam a fim de trocar ideia.

Felipe: Muito obrigado!

Condução: Felipe Ferreira
Produção: Vit, Brinatti e Sophi
Perguntas: Redação
Edição: Matheus José e Mateus Carneiro
Aquele Tuim

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