Crítica | Bad Cameo


★★★★☆
4/5

No ano passado, Lil Yachty apresentou uma das renovações artísticas mais surpreendentes dos últimos anos. Um nome medíocre e irrelevante na cena hip hop que, quando ninguém esperava, surgiu bebendo na fonte do rock psicodélico e trazendo um disco que foi uma excelente mistura de certas características de seus trabalhos artísticos anteriores, mantendo os pés no rap. Agora, Lil Yachty se une a James Blake para mais um trabalho em sua fase artística voltada para o psicodélico. Aqui são trabalhados os sons que o rapper estava explorando, alinhados com aspectos únicos da produção do britânico. O resultado é um álbum fantástico em que ambos os artistas apresentam o que fazem de melhor.

Embora características do trabalho de James sejam evidentes com a produção eletrônica atmosférica, muitas vezes alinhada ao R&B alternativo, o álbum traz referências do hip hop e um grande caráter alucinógeno que remete tanto ao meio de divulgação de Lil Yachty no rap quanto em Let's Start Here. Penso nesta colaboração como uma via de mão dupla: o R&B eletrônico do britânico contribui para realçar o aspecto psicodélico do rapper e vice-versa.

Isso fica evidente com a primeira música, “Save The Saviour”, em que James Blake mostra sua maestria como produtor ao operar com frequências altas para realçar a força da atmosfera que a música busca apresentar: o baixo é hipnotizante, superando a psicodelia temática do rapper. “Woo”, em seus melhores momentos, aparece como uma mistura sedutora de jersey club, gênero eletrônico intimamente ligado ao hip hop, com teclados melancólicos, que lembram o trabalho do solo do produtor. “Twice”, por sua vez, é a música que melhor mistura o hip hop de Lil Yachty com a eletrônica de James. Embora inicialmente apresente pianos house arrebatadores junto com baterias dançantes, ela transiciona para um trap abastado de sintetizadores sonhadores. No geral, Bad Cameo é uma lição de como fazer um projeto colaborativo em que as melhores qualidades de ambos se misturam para, como resultado, criar algo fantástico.

Selo: Quality Control, Motown
Formato: LP
Gênero: Pop / Art Pop, R&B Alternativo, Neopsicodelia
Davi Bittencourt

Davi Bittencourt, nascido na capital do Rio de Janeiro em 2006, estudante de direito, contribuo como redator para os sites Aquele Tuim e SoundX. No Aquele Tuim, faço parte das curadorias de Música do Leste e Sudeste Asiático, Pop e R&B.

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