Crítica | Bloodthirsty


★★☆☆☆
2/5

Bloodthirsty, de Phalyoh, é um exercício de competência em seu nicho: uma colagem de IDM, eletrônica e deconstructed club que opta por navegar em territórios conhecidos, em vez de reinventá-los. O projeto não almeja revolucionar, mas sim dominar com precisão técnica uma estética já mapeada — sons industriais que rasgam como lâminas, batidas que oscilam entre o hipnótico e o caótico, e texturas que evocam o atrito entre metal e ruído digital.

A produção é sólida, ainda que previsível em sua escolha de armadilhas sonoras: estilhaços de vidro, distorções granuladas e padrões rítmicos que se acumulam como engrenagens de uma máquina sem pressa para surpreender. A virtude do EP está na execução cuidadosa de suas referências. Phalyoh desfia elementos do house e do jungle com a destreza de quem conhece o manual, transformando-os em sequências que, embora bem costuradas, raramente escapam do esperado.

Em “Body, Spirit, Soul”, a tentativa de amalgamar glitches cortantes e levadas de jungle até intriga, mas esbarra em repetições cansativas e em uma segunda metade que recai em riffs de guitarra lineares — como se a ousadia inicial tivesse esgotado seu fôlego. Já “210” destaca-se por explorar a tensão entre repetição e ruptura: erros propositais e samples quebradiços criam uma atmosfera de colapso iminente, ainda que dentro de um terreno já pavimentado.

Há, contudo, uma falta de ambição em transcender o óbvio. As faixas, individualmente competentes, não convergem para algo maior, e a organização do EP parece acidental, como uma playlist de experimentos isolados. A promessa de ser uma “amostra” de um álbum futuro soa menos como um teaser intrigante e mais como uma justificativa para a ausência de arcos narrativos.

Bloodthirsty é como um animal treinado: exibe presas afiadas e um rugido impressionante, mas caça em círculos. Phalyoh demonstra domínio técnico e um ouvido aguçado para texturas ásperas, porém evita os riscos que fariam do EP mais que um compilado de boas ideias em conserva. Se há sangue neste projeto, ele escorre com parcimônia — suficiente para manchar, não para inundar. Competente? Sem dúvida. Memorável? Aí, o veneno ainda é fraco.

Selo: Independente
Formato: EP
Gênero: Eletrônica / IDM

Antonio Rivers

Me chamo Antonio Rivers, graduando em História, amazonense nascido em 2006. Faço parte do Aquele Tuim, nas curadorias de Experimental, Eletrônica, R&B e Soul.

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