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Música é serotonina, é magia nos ouvidos e um tranquilizante em dias de tormenta. As ondas sonoras que invadem nosso corpo são, cotidianamente, sons quadrados e fórmulas plastificadas. Porém, na Aldeia Mãe Barra Velha, para os Marujos Pataxó, ela é um símbolo de conexão religiosa e cultural. Hoje é o Dia do Índio ressalta a contribuição e influência dos povos indígenas na construção do samba, através da percussão e de ritmos tradicionais que se preservam de geração em geração.
A princípio, o LP utiliza uma característica peculiar para a construção de suas faixas: a captação do ambiente externo, que se aproxima da técnica de gravação de campo, fora os instrumentos, para compor a sonoridade. O resultado é um efeito pé no chão, que ignora a supressão de ruídos e abraça a naturalidade do som (vozes abafadas, vento, risadas etc.). Nisso, as narrativas apresentadas, através das repetições das letras, se tornam mais belas, e a imersão gerada é ainda mais densa. O objetivo principal de ressaltar a contribuição dos povos indígenas é cumprido de maneira exemplar. Muitos dos elementos do samba que comumente conhecemos estão aqui, principalmente em instrumentos de tambor e em algo semelhante a pandeiros.
Hoje é o Dia do Índio é educativo, cultural e importante. A obra dos Marujos Pataxó expande a concepção de onde se origina a música. Se, de um lado, estamos passando por um redescobrimento histórico da origem de diversos gêneros musicais como house, country e, aparentemente, o rock; do outro, estamos revendo conceitos sobre o que, de fato, a música se limita a ser. Aqui, é colocada em prática a ideia de que música é além do que ouvimos, e ela transcende os ouvidos e perpassa dos pequenos batuques do bebê a um símbolo que representa a união de um povo. É lindo.
Selo: Natura Musical
Formato: LP
Gênero: Música Brasileira / Samba