Crítica | Basic Maneuvers


★★★☆☆
3/5

Muitos dizem que o apelo de Verraco está na maneira como ele adapta sua eletrônica de vanguarda às pistas de dança no contexto latino-americano. E, de fato, é isso mesmo que ele faz, mas não desse modo aparentemente simples. Seu EP de estreia na XL, Basic Maneuvers, mais um dos destaques do selo em 2025, prova que Verraco age sobretudo com uma naturalidade, ordenhando suas batidas a fim de extrair a coisa mais profunda, e mais superficial, mais dançante, delas ao mesmo tempo. É um trabalho curto, enxuto e que brilha, particularmente nele – e através dele – por propor esse tipo de construção, ou desconstrução.

Veja como exemplo o que ele faz com o techno: envolve-o por um design de som viscoso, que nos prende em seu tecido epitelial, dispensando as formações mais secas e ríspidas e apelando para uma latinidade que vai muito para o dembow, como na abertura “Basic Maneuvers”. Se aproxima, assim, do que Aphex Twin fazia na virada dos anos 90, essa descaracterização pessoal de um gênero tão interpessoal que tudo. A diferença, porém, é que Verraco nitidamente se preocupa em ser mais dançante, e isso pressupõe uma certa acessibilidade de seu som, que pode ser vista em “sobe sobe”, que conta com os vocais de MC Yallah. É uma música pop, mas num padrão desconhecido, não é rave e nem precisamente dance; é algo que soa sem pares.

Ele, por vezes, joga tudo pro alto num foda-se geral, e o resultado é um dubstep que começa com texturas minimalistas e depois explode como se cada virada fosse um drop atropelado pelas batidas mais densas que ele impoe (“Total”), misturando assim escolas de formação e técnicas diferentes, mas que são importantes por formarem quem ele é. Esse tipo de investida torna a mostrar que, mesmo optando pra algo mais comum, Verraco ainda sabe como imprimir sua marca, como desafiar padrões estilísticos e, sobretudo, como pairar entre a vanguarda, submersa, e a superfice da música eletrônica, a ponta do iceberg.

Selo: XL Recordings
Formato: EP
Gênero: Eletrônica / Techno
Matheus José

Graduando em Letras, 24 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

Postagem Anterior Próxima Postagem