Crítica | ILY Travis (Chuqi Chinchay Is God & God Bless America)


★★★★☆
4/5

O formato de mixes que é feito pela NTS é algo que me interessa muito. Convidar artistas relevantes musicalmente para que eles possam fazer sua própria programação e ser lançado oficialmente online é algo muito bonito. Além disso, permite-nos enxergar uma outra face de certos artistas, quais músicas eles escutam, o que eles tocam num mix totalmente livre, etc. Caso procure o suficiente, é possível que encontre convidados que fizeram uma sequência apenas de harsh noise, ou de ópera, ou de música tradicional de algum país específico.

Quando vi que havia um programa da NTS com Chuquimamani-Condori, portanto, foi a Disney da minha manhã de segunda-feira (02). Elu é ume artista que já se consagrou em 2025 (e em qualquer outro ano que lançou música, em qualquer um de seus alter egos), pelo genial Los Thuthanaka. Em ILY Travis, algumas ideias permanecem, como o uso das percussões de música indígena, a valorização das línguas e dos gêneros musicais e a presença da música feita nos continentes americanos. Uma presença, que particularmente acho genial – e não é a primeira vez que Chuquimamani-Condori traz – é a do Country, um gênero que, certamente, ganha muito mais profundidade com o mashup de ritmos indígenas e sendo tratado a partir de uma cosmovisão mexicana.

Mesmo que essa não seja a primeira vez que Chuquimamani-Condori trabalha um mix na NTS baseado em Country – por favor, ouçam o também maravilhoso Find Me – nesse novo há uma outra proposta mesmo para pensar DJ mixes. A começar que todas as músicas foram manipuladas via mashup, especialmente, os instrumentais, que criam uma colagem entre as faixas, algo muito típico do trabalho de estúdio dê artista, e que aparece livremente aqui também. Outro destaque é o uso psicodélico de texturas, baixos e percussões, muito próximos ao que faz o próprio Los Thuthanaka; em certos momentos é quase como se esse mix na NTS fosse o sucessor espiritual do álbum.

A habilidade de criar uma grande colagem de 50 min, com muitos mashups, com tanta habilidade, uma mixagem tão limpa e que consegue alcançar, tanto crescendos, quanto momentos mais íntimos e sempre soar bom, é fenomenal. Há momentos realmente emocionantes ao longo do DJ Mix; o próprio começo é um deles e o mashup com “You’re Still the One” de Shania Twain é outro exemplo possível. O mais incrível é como cada uma dessas decisões têm peso, é um dos lançamentos com mais materialidade do ano, cada decisão tem força, a psicodelia é construída com um maravilhoso sound design, o country é pisoteado, esmagado, tornado frio. É muita coisa para absorver em um formato livre que é aproveitado livremente ao máximo.

Esse DJ mix é só mais uma prova, desnecessária a esse ponto de que Chuquimamani-Condori se mostra, hoje, como futuro da música eletrônica e experimental. Uma das experiências mais emocionantes do ano, ouçam, sintam e, com certeza, vão resgatar um sentimento com a música que há muito não sentiam.

Formato: DJ Mix
Selo: NTS
Gênero: Eletrônica / Mashup, Epic Collage

Tiago Araujo

Graduando em História. Gosto de música, cinema, filosofia e tudo que está no meio. Sou editor da Aquele Tuim e faço parte das curadorias Experimental, Eletrônica, Funk e Jazz.

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