
★★★★☆
4/5
4/5
Não é surpresa pra ninguém que grande parte dos músicos eletrônicos brasileiros costuma se apoiar em algumas máximas do gênero como, por exemplo, estender a duração de suas músicas ou torná-las especificamente mais densas a fim de gerar uma espécie de robustez que justifique suas habilidades. O novo álbum do DJ Guaraná Jesus, projeto de Julio Santa Cecília, Ouroboros, vai na contramão dessa tensão, e seus menos de 20 minutos provam que, compactar, também é uma habilidade – e que nele, brilha mais do que tudo.
Não que seja um crime haver LPs longos, uma vez que essa é quase uma tradição enraizada na eletrônica de vanguarda, em que nomes como Aphex Twin sempre usaram do formato para comportar composições com variações estéticas voltadas às texturas atmosféricas da música ambiente, resultantes de outros processos que envolvem techno e IDM. São obras que parecem escoar melhor nesse tipo de criação. Mas a questão, de formato, deveria mirar no fato de o artista ter, ou não, repertório suficiente para estender-se (na minutagem) demasiadamente. Não é, também, que DJ Guaraná Jesus não tenha esse repertório, pelo contrário, você pode notar que há muito estudo em suas peças colocadas aqui em durações curtas e diretas.
Para isso, ele se apoia em outra máxima recorrente: a de colocar-se numa posição exploratória, de percorrer suas influências enquanto as põe sob suas asas. Há, porém, uma oposição a outro “erro” que artistas desse mesmo espaço costumam reproduzir quando se trata de influência: o nível de apreensão entre essa veia exploratória da música eletrônica e o que resulta disso. DJ Guaraná Jesus nitidamente sabe onde quer chegar, por isso sua música soa o menos apreensiva possível, como se suas batidas aceleradas, que dialogam com o breakbeat em tom mais atmosférico, fossem construídas sem nenhuma dúvida quanto ao porquê de se constituírem dessa forma.
Não se trata de um uso bobo de baterias ou de BPMs acelerados à toa, apenas para gerar uma espécie de choque ou instrumental mais diferenciado. É uma exploração baseada no que o produtor idealiza e coloca em prática, quase sem erros, e por isso ele o faz de forma mais compacta. Basta ouvir a maneira como o drum de “D-50 loop” se aproxima de uma textura que acelera numa força de arranque esmagadora. Há, nesse ponto, um aceno direto a estilos de música eletrônica que focam numa construção de ambientes, espaço, como se pode observar no próprio pano de fundo da faixa, que, quando se torna mais evidente nos segundos finais, nos faz perder a noção do que acabamos de ouvir. É uma experiência quase sensorial, que dura menos de três minutos e resume bem a ideia proposta pelo produtor aqui.
Selo: Seloki Records
Formato: LP
Gênero: Eletrônica