
★★★★☆
4/5
4/5
Desde o lançamento do single “Familiar”, Aminé já deixava pistas sobre o que o novo disco, 13 Months of Sunshine, representaria em sua carreira. O rapper norte-americano carrega uma forte herança cultural de sua família, formada por etíopes e eritreus – característica que ganha destaque no álbum ao resgatar as vivências de seus familiares imigrantes nos EUA e relacioná-las com sua própria história na música. Essa alusão começa já no título do álbum, que faz referência ao slogan associado ao calendário etíope, composto por 13 meses. A capa também reforça essa conexão, retratando a casa da tia do rapper como uma típica residência etíope. Essa ambientação se estende ao longo do disco, como na conversa sincera com seu pai.
A ancestralidade é o tema norteador do álbum. No entanto, Aminé transita por diversas áreas da sua vida, e o pai o acompanha nessa trajetória por meio de diálogos gravados. Essa jornada começa já na faixa de abertura, “New Flower! (feat. Leon Thomas)”, narrando os pensamentos de Aminé; como foi – e está sendo – seu crescimento como artista e como pessoa. Com esforço e persistência, ele plantou algo que floresce hoje. O rapper narra as ironias da vida, como a gorjeta que recebeu de Big Sean quando era estagiário na Complex, sem que nenhum dos dois soubesse que, mais tarde, colaborariam em KAYTRAMINÉ, na faixa “Master”. No final da música, ouvimos a voz do pai transmitindo ensinamentos que passaram de geração em geração. Cultivar para colher depois é uma tradição familiar: veio do avô, passou para o pai e chegou a Aminé, que hoje colhe os frutos do seu trabalho.
Aminé aposta em uma produção agitada, voltada para ritmos de balada, misturando pop com hip hop e elementos de house music, presentes em parte do disco. O interessante e irônico é como ele aborda temas subjetivos e pessoais com essa estética festiva. O rapper reflete de maneira introspectiva e melancólica sobre sua constante autocrítica e a necessidade de se provar para si mesmo, até em faixas com ritmo dançante. “Não posso chorar e reclamar, o mundo não se importa com o que você deseja. Não tropece, você não é o único”, reflete em “Sage Time”. Já em “Vacay”, faixa que acompanha um clipe minimalista e traz influências do UK garage na produção, ele canta sobre um momento de despreocupação: você é jovem, não precisa se estressar, pode usar drogas, transar com mulheres, viver o “fútil” sem culpa.
Apesar de o projeto trazer, nestes instantes, faixas voltadas ao prazer carnal como em “Feel So Good”, Aminé consegue, de forma sutil, encaixar os ensinamentos herdados da cultura de seus pais. Uma peça que evidencia bem isso é “Familiar”. Ao mesmo tempo em que usa a palavra “familiar” para se referir a um par romântico, ele também se conecta com suas raízes etíopes por meio daquilo que conhece através da família. No clipe, Aminé dialoga com suas raízes e descendência ao incorporar a eskista – dança tradicional e icônica da Etiópia – e utilizar diálogos em amárico, idioma oficial do país.
Ao final do álbum, compreendemos a importância de 13 Months of Sunshine na discografia do rapper. O fato de ter desenvolvido um trabalho totalmente voltado para aquilo que esteve presente em sua criação com pais imigrantes representa um retorno àqueles que batalharam para que ele pudesse ser quem é hoje. Um momento marcante do álbum é a fala de seu pai em “Doing The Best I Can”, uma música melancólica que exprime toda a autocobrança que o rapper impõe a si mesmo devido ao esforço dos familiares dele: “Eu tenho que fazer algo por essa família que eu criei, sabe? (Sim) Eu tento o meu melhor, eu tentei o meu melhor possível [...] como se não houvesse nada que eu pudesse mudar.”, diz o pai de Aminé.
O rapper resgata sua essência e daquilo que o formou para desenvolver um projeto puro e com coerência conceitual, baseado em sua própria vida. Encontramos pensamentos sinceros que o limitam, mas também o que é proveitoso e divertido, especialmente na produção. Em “Images”, Aminé encerra o álbum de forma singela, remetendo às memórias que o motivaram a criar esse trabalho. Ele discorre sobre como manter viva a lembrança de pessoas que fazem ou fizeram parte da sua trajetória, assim como faz na capa do disco. É um momento de amadurecimento do artista e, por isso, o tom mais reflexivo.
Selo: CLBN, 10K Projects
Formato: LP
Gênero: Hip Hop / Rap, UK Garage