
★★☆☆☆
2/5
O disco Baby de Dijon é daqueles álbuns que te pegam de jeito, mas de um jeito estranho, é íntimo, mas também universal, atravessando paternidade, amor e os pequenos caos da vida doméstica. Dijon, que se tornou pai recentemente, joga suas experiências na música sem filtro, e a gente sente cada detalhe, mesmo que o disco às vezes nos deixa meio desorientados. São 12 faixas que não se entregam facilmente, ou seja, você espera uma coisa e Dijon vai na direção oposta, e é aí que mora a surpresa.
Musicalmente, o álbum mistura R&B, soul, pop e um certo experimentalismo de gênero de um jeito que nunca deixa a escuta linear. A faixa-título “Baby!” é melodramática, cheia de reverb, lapsos de tempo e aquele clima que lembra Frank Ocean ou Steve Lacy. Em outros momentos, como em “HIGHER!”, você até encontra uma linha mais clara, mas mesmo assim o disco insiste em se desconstruir, criando uma sensação de psicodelia caseira e colagem sonora que desafia qualquer expectativa do que R&B “deveria” ser.
O que mais chama atenção é essa imprevisibilidade constante. Samples, sons ao vivo, fragmentos inesperados, Dijon brinca com a paciência do ouvinte e transforma o álbum numa experiência meio que adversa, mas fascinante. É um trabalho com toques verdadeiramente diferentes, um R&B fora do padrão, evidenciando que a música pode ser desordenada e ainda assim coerente no que quer transmitir.
Apesar do cuidado e da construção do álbum — perceptível até nos números de streaming, possivelmente impulsionados pelo sucesso prévio de “Devotion” em Swag de Justin Bieber — Baby não é um disco que entraria facilmente na minha playlist pessoal. Não por ser ruim, mas porque é uma escuta agressiva, distinta e muito singular. É um disco que impressiona e desconstrói mas exige do ouvinte uma atenção e uma abertura muito grande para o inesperado.
Selo: R&R/Warner Records
Formato: LP
Gênero: R&B / Alternativo