Crítica | ÆDM


★★★★☆
4/5

Resultado de um acúmulo de experiências com seu som, DJ ALYX, em seu EP ÆDM, faz quase uma linha cronológica de seu próprio trabalho, reconhecendo suas principais qualidades e trazendo uma lapidação de seu som em uma qualidade incrível. Seu trabalho com o funk, desde o início, sempre foi usado como alegoria, trazendo pequenos recortes do gênero e os mesclando na música eletrônica, puxada para um EDM e aspectos voltados ao trance.

Algumas faixas e sets demonstram isso, como o “setzin precoce pq seu delineado ta monstro”, cuja audição é equivalente a ter uma viagem sinestésica. O set traz elementos dos nichos mais específicos possíveis da internet, e ALYX se utiliza de tudo que tem direito: versões de músicas aceleradas, sons do sistema Windows, vídeos de frases virais adulteradas e tudo que se possa imaginar. Para quem é do universo pop, essa faixa é quase semelhante a trabalhos da Ayesha Erotica. Centralizei essa faixa em específico porque, mesmo sendo um dos seus primeiros trabalhos presentes no Soundcloud, já demonstra o quanto seu som não se limita a caixas estilísticas.

Qualidades essas que vão se revelar virtudes neste EP. ÆDM tem como protagonista o EDM, que é a todo momento adornado pelo funk mandelão. As faixas são até curtas, mas talvez isso faça você ouvir e pedir por mais. Suas escolhas aqui são muito certeiras; os elementos sonoros, operando em tempos e volumes diferentes, são um charme sem igual, e a faixa “AUTOMOTIVO GOSTOSINHO DAS SUCCUBUS CLUBBER” representa muito bem isso.

Há também uma trinca de peças que me deixou eufórico: “FDP”, “VAI FDP” e “AK 47”. As duas primeiras são, como o nome sugere, complementares uma à outra, usando elementos do electro house, hardstyle e um pouco de trance de maneira extremamente virtuosa e de tirar qualquer um de órbita. A acapella de vozes, sendo usada como um elemento puramente sonoro, deixa as duas faixas mais "complexas", sentimento esse que vai ser transferido enquanto você escuta, do lado esquerdo sintetizadores explodindo e uma acapella de voz com autotune, do lado direito uma ritmada abafada, com sons mais “limpos”. O uso de sintetizadores para trazer peso às duas faixas é feito de maneira nada regrada, mas creio que será um dos melhores incômodos que você sentirá no ouvido.

Agora, uma das estrelas do EP, é “AK 47”. Apenas apertem o play e se deparem com uma das melhores experiências de 2025. Sua abordagem puríssima do dub poderia até soar demodê demais, mas não: é arrebatador nos primeiros segundos. A faixa é puramente trabalhada no dub por quase dois minutos, com baixos estridentes que invadem os ouvidos com a forma de uma betoneira em pleno funcionamento. É uma das músicas lançadas este ano que tem mais probabilidade de tirar você do tédio sempre que for tocada e ouvida, independentemente da situação.

Por fim, ÆDM é a representação mais próxima da perfeição desse movimento atual da cena do funk, que busca uma relação quase simbiótica com a música eletrônica formal. Tivemos recentemente trabalhos que exploravam essa movimentação, mas o resultado foram projetos muitas vezes vazios ou indecisos demais em qual lado ficar dessa relação. ÆDM não: ele pisa fundo e retorna com um trabalho exaustivamente bem construído. Quem tem Skrillex como referência não tem como dar errado.

Leia: Fala, Tuim #1 com DJ ALYX
Selo: Humildes
Formato: EP
Gênero: Eletrônica / Funk

Antonio Rivers

Me chamo Antonio Rivers, graduando em História, amazonense nascido em 2006. Faço parte do Aquele Tuim, nas curadorias de Experimental, Eletrônica, R&B e Soul.

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