Crítica | Star Line


★★★★☆
4/5

Star Line, lançado em agosto deste ano, marca o segundo disco de estúdio de Chance the Rapper e sua volta após um hiato de seis anos desde The Big Day (2019). O título faz referência à histórica empresa de transporte marítimo Black Star Line, ligada ao movimento pan-africano de Marcus Garvey, e funciona como metáfora para a jornada de Chance pela história da diáspora, suas conexões modernas e reflexões sobre identidade negra, pertencimento e legado. Inspirado por uma viagem de autoconhecimento a Gana e por figuras como Kwame Nkrumah, o rapper conecta sua música a essa herança, transformando vivências e estudos em combustível criativo.

Com 17 faixas, o álbum é profundo que mistura hip hop com soul, gospel, neo-soul e influências de afro-fusão, equilibrando temas pessoais como fé, paternidade, relacionamentos e comunidade com questões socioculturais. A produção é cuidadosamente rica em samples e referências, oferecendo uma experiência sonora que homenageia o hip hop clássico enquanto dialoga com sonoridades mais modernas.

A faixa “Ride”, em parceria com Do Or Die, já me conquistou pelo sample de “Don’t Stop” do One Way — também famoso por ter sido sampleado em "Luven Me", de Nelly. A colaboração com Do Or Die combina perfeitamente, resultando em um hip hop clássico que revisita as raízes de Chicago de Chance. “No More Old Men”, com Jamila Woods, foi a primeira faixa que me chamou atenção pois traz leveza e fluidez ao rap, transformando a música em algo puro, quase transcendente, e evidencia o talento de Chance em criar momentos de sensação etérea.

Em “The Negro Problem”, a pegada soul de BJ The Chicago Kid é perceptível, tornando a faixa leve e reconhecível já na primeira audição. O refrão ainda carrega uma referência sutil a “Sweet Love”, de Anita Baker, reforçando a riqueza do sample e o cuidado na produção.

Back To The Go”, com Vic Mensa, explora a sensibilidade da parceria entre os dois rappers. A faixa mistura introspecção e energia, apoiada por uma versão dublada da ode de Djo a Chicago, “End of Beginning”, que surge ao fundo de forma lenta e sombria, criando uma textura sonora única.

“The Highs & The Lows”, com Joey Bada$$, é absurda em intensidade e entrega lírica, mantendo a força do hip-hop clássico com referências contemporâneas. Já “Gun In Yo Purse”, com Young Thug e TiaCorine, traz uma camada mais street, com refrão hipnótico e repetitivo que permanece na memória do ouvinte, contrastando com faixas mais introspectivas.

Speed of Light”, com Lion Babe e BJ The Chicago Kid, sampleia “The Light”, de Common, e entrega uma batida que mistura hip-hop, soul e elementos de drill sexy. A textura sonora e o uso do background vocal dão a sensação de movimento acelerado, reforçando a ideia de velocidade presente no título. “Pretty”, por sua vez, contém referência clara a “All This Love”, do DeBarge, e se destaca pela vulnerabilidade e densidade emocional, tornando-se uma das faixas mais íntimas do álbum.

No geral, o disco é um banquete sonoro, bem produzido, rico em referências, com momentos de puro hip hop clássico e outras faixas que exploram camadas modernas. Apesar de algumas músicas se perderem ao longo do percurso — o que é natural em um álbum extenso de 17 faixas —, Star Line é uma obra profunda e envolvente, revelando maturidade artística e consciência histórica de Chance.

Selo: CTR LLC
Formato: LP
Gênero: Hip Hop

Viviane Costa

Graduanda em Jornalismo, apaixonada por Música, Arte e Cultura. Integra a curadoria de Rap e Hip Hop do Aquele Tuim.

Postagem Anterior Próxima Postagem