
4/5
Violet, trabalho de Otis Kane lançado em janeiro, é um disco nada pretensioso. A arte da capa, inspirada nos LPs de soul dos anos 70, já revela o espírito do álbum: nostálgico e afetuoso, feito por quem cresceu admirando os retratos de Marvin Gaye e Donny Hathaway. Musicalmente, Kane busca um equilíbrio entre o clássico e o contemporâneo, algo que ele mesmo define como uma mistura de grooves retrô de R&B e pop.
As músicas transitam pelos diferentes estágios do amor — do primeiro impacto à entrega total, passando por momentos de reflexão sem dramatizar demais. “Breathe”, “Scorpio”, “Heartbeat” e “Morning Sun” mostram como ele mantém um clima imersivo e profundo, ainda que sem grandes reviravoltas. O disco é bonito, coerente e fácil de gostar. Mesmo quando se aproxima da monotonia, há um senso de coesão que lembra o soul suave do Thee Sacred Souls.
Apesar de ser descrito como um “pioneiro na mistura de gêneros”, Otis Kane não reinventa o movimento — o R&B sempre viveu desse hibridismo, do soul setentista às fusões experimentais de Frank Ocean ou Anderson .Paak. O diferencial dele está em como essa mistura soa orgânica e ensolarada, quase como um reflexo da própria Los Angeles onde ele vive. Kane trabalha de dentro pra fora — produz, escreve e toca — o que dá às canções um fluxo natural entre o retrô e o contemporâneo. Em vez de se apoiar em batidas melancólicas ou atmosferas sombrias que dominam parte do R&B atual, ele prefere a leveza, a positividade e o calor, atributos que, ironicamente, acabam tornando sua abordagem singular num gênero saturado de melancolia.
Entre as faixas, “Honey”, com participação de Sugar Joans, é um ponto fora da curva. O dueto cria um contraste bem-vindo dentro da linearidade do disco: um R&B mais cru e direto, que valoriza os vocais de ambos e exala química. Essa parceria quebra o ritmo suave e uniforme de Violet, mostrando que Kane funciona ainda melhor quando se permite sair do previsível.
Violet pode não ser um divisor de águas, mas mostra que Otis Kane entende de textura, groove e atmosfera. Ele descreve o álbum como uma “verdadeira alegria” e uma jornada por seus momentos mais felizes e é exatamente isso que se sente na escuta: um disco leve, ainda que preso dentro das próprias boas intenções.
Selo: Nettwerk Music Group
Formato: LP
Gênero: Soul / R&B