Crítica | .


★★☆☆☆
2/5

Após um disco que representou uma direção musical totalmente diferente do que Kesha havia feito anteriormente, indo a uma sonoridade introspectiva e tomada por experimentalismo de gênero na música pop, agora a artista muda bruscamente de sentido, largando as letras com carga emocional poderosa, sonoridade geralmente minimalista e que dialogava com estilos mais undergrounds da música eletrônica, para tentar se aproximar de sua persona artística do início da carreira. . [period] tem sua base nos estilos que marcaram a música pop na década passada, tomando a energia descontraída e imponente que definiu a obra da cantora em seus maiores sucessos.

O problema é que ela pega referência de diversos estilos do pop dos anos 2010, porém raramente consegue acertar na incorporação da persona que um dia ela já foi. É interessante observar que essa proposta já havia sido feita de alguma forma em High Road, de 2020, e aqui Kesha parece cometer novos erros nessa abordagem. Quando geralmente o disco tem seus destaques, a visão da cantora está direcionada a um som menos datado, ao invés de pegar como base tendências que surgiram em algum momento de 2010-2019 e ficaram presas naquele período. O único grande destaque que pega aspectos essencialmente dessa época é “JOYRIDE.”, que se destaca com sua energia descompromissada e seu aspecto pulsante de suas batidas house rápidas e incessantes e seus metais bobos, o que remete ao romanian popcorn, estilo dance-pop que teve grande sucesso no início da década passada nos países europeus. “RED FLAG.”, um electro house festivo, com sequenciadores imponentes e melodias divertidas, é o outro momento que se assemelha ao pop eletrônico da década passada e que consegue tirar bom proveito dessa sonoridade.

O álbum, no geral, é uma experiência extremamente irregular, de fato acredito que ele não seria de tão problemático se Kesha realmente se mantesse no electropop centrado no electro house e no electroclash que foi o que realmente deu certo para ela em seu hits como “Tik Tok” e “Die Young”, mas, na verdade, a artista parece atirar para todos os lados nessas tendências de 2010-2019. O disco vai dos já citados romanian popcorn e electro house para baladas electropop com um tom poderoso que se assemelham mais a alguma coisa que a Sia lançaria no This Is Acting e, até mesmo, bro-country, em uma das piores canções de sua carreira, “YIPPEE-KI-YAY”.

Os momentos em que a cantora não está completamente tomada por sons extremamente datados, conseguem ser, no mínimo, mais aceitáveis. Aqui há alguns excelentes destaques, como “FREEDOM.”, que começa com uma introdução ambiente, apresentando vocais estilo coral e uma atmosfera meditativa, alinhada ao new age, mas se transforma em uma faixa disco-pop descontraída, com grooves funk desconcertados. A energia Ke$ha está presente aqui, porém em uma sonoridade refrescante que demonstra uma progressão artística intrigante. Inclusive, as surpresas na construção da música não se esvaziam nesse momento, mas a faixa carrega instantes de solo de teclado, além de um refrão com um aspecto soul fervoroso — é uma das faixas mais divertidas da carreira da cantora.

“BOY CRAZY.” é um synthpop tomado por sequenciadores energéticos e pulsantes, com um excelente trabalho na criação de ganchos — a música toda é caracterizada por melodias pegajosas que funcionam aqui perfeitamente. São esses fragmentos que dialogam com sua personalidade artística despojada em abordagens musicais refrescantes, que são o ponto em que realmente se vê as ideias de Kesha tomando a sua melhor execução, se todo o registro tomasse esse cuidado, esse bom gosto musical, que pega o que deu certo para a artista no passado e incorpora a novas sonoridades, possivelmente . [period] não seria tão inconsistente e obteria um proveito muito maior de suas ambições artísticas.

Selo: Independente
Formato: LP
Gênero: Pop

Davi Bittencourt

Davi Bittencourt, nascido na capital do Rio de Janeiro em 2006, estudante de direito, contribuo como redator para os sites Aquele Tuim e SoundX. No Aquele Tuim, faço parte das curadorias de Música do Leste e Sudeste Asiático, Pop e R&B.

Postagem Anterior Próxima Postagem