
Leia o que os nossos redatores Matheus José, Vit, João Vitor, Lu Melo, Tiago Araujo, Davi Bittencourt e Lucas Granado acharam do novo disco de Sabrina Carpenter.
Matheus José: Eu poderia justificar meu desgosto por esse álbum perambulando por argumentos e mais argumentos, mas prefiro, nesse caso, ser sincero e direto: só gostei de uma música dele. O restante, pra mim, é um verdadeiro tanto faz. É meio difícil não comparar com o disco do ano passado, não só pelo curto espaço de tempo, mas porque eles partem de ideias em comum. A diferença é que Short n' Sweet ainda tinha músicas, no seu escopo pop, que eu genuinamente reconheço como minimamente divertidas. Aqui, só vejo isso em “Manchild”.
Vit: Infelizmente, sempre me decepciono quando escuto algum álbum inteiro da Sabrina Carpenter. Adoro os hits dela, mas nunca consigo gostar de uma obra completa. E é uma pena, porque seus hits funcionam muito bem e gostaria que o restante das músicas também funcionasse e saísse desse negócio de “tanto faz”. Aliás, ela tem bastante potencial pelos seus sucessos, shows e clipes divertidos e uma personalidade mega carismática. Uma popstar quase completa, mas que deixa seus álbuns em segundo plano, sendo feito de qualquer jeito, dedicando-se apenas a algumas faixas. Desse disco, só curti “Manchild”, “Tears”, “When Did You Get Hot?” e “House Tour”.
João Vitor: Particularmente, eu gostei do álbum, fiquei vidrado em algumas músicas do disco. Tenho, no entanto, uma sensação de descarte. Vejo que a Sabrina evoluiu em certos pontos desde o primeiro álbum até agora, mas ela se prende em uma sonoridade (que, de acordo com ela, é a que a agrada) que parece ser qualquer coisa. “When Did You Get Hot?” nos remete à algo feito nos Singulares e “Tears” é uma faixa pop descontraída que combina com a personalidade que ela constrói. Para mim, é o pior disco da Sabrina, ainda mais por ter um apego enorme com os outros já lançados (o EVOLution está, inclusive, no meu top 5 álbuns da vida, me acompanhou por MUITO tempo e ela me entregou o “diva pop da Disney” num tempo que não existia mais Miley, Selena ou Demi). Acredito que o álbum não é de todo ruim, mas concordo que ele é cansativo. Hoje, só escuto as que mais me agradam (que é, sei lá, metade do disco), mas concordo com as críticas (tanto positivas quanto negativas).
Lu Melo: Sabrina Carpenter é uma persona irônica, em que a sua característica principal é a ousadia e a sensualidade. Em Short N’ Sweet, a artista traz composições que enfatizam sua personalidade engraçada no amor e no sexo, como em “Juno”, faixa que fala sobre as posições que a artista teria filhos com o seu amado. Porém, Man’s Best Friend é uma sátira de sua obra antecessora que, mesmo tentando mostrar originalidade, ainda soa como uma playlist de descartes que estavam engavetados. As faixas de não possuem sentido, como “Manchild” que, em termos de batidas, instrumentais e vocais, é uma tentativa falha de alcançar o sucesso de músicas como “Good Luck Babe”, de Chapell Roan. Não há uma proposta concreta dentro da nova obra de Carpenter além de um produto genérico feito às pressas.
Tiago Araujo: Esse álbum representa perfeitamente um ponto de desencontro que eu tenho com a música pop, muito próprio dos anos 2020. Há basicamente uma continuidade estrutural, técnica (em termos de composição) e de produção de tudo aquilo que se faz meramente reprodutivo, fordista. É impossível dizer onde as ideias surgem e somem, porque não há ideias. O modelo de cada música está muito bem pré-estabelecido industrialmente e o que se faz é acrescentar uma voz por cima disso. E não é à toa que se confunda tanto o que ela efetivamente diz — não dá pra comprar que a parte poética do álbum realmente é fruto da Sabrina Carpenter, e muita gente insiste em dizer como se fosse — com o que ela meramente reproduz. A década de 2020 é uma das mais ricas que temos na música até hoje, e o ano de 2025, o melhor da década até agora. Mas a música pop mainstream dos anos 2020 só não é a pior música pop de todos os tempos, porque pelo menos não estamos mais ouvindo The Chainsmokers e David Guetta.
Davi Bittencourt: Eu que escrevi a crítica do Aquele Tuim sobre esse disco, então eu tive uma análise mais aprofundada do porquê que o álbum muitas vezes é chato no meu texto. Resumidamente, eu acho que ele carece de personalidade e acredito que o principal é que as influências que eram existentes em seu disco Short N’ Sweet reaparecem aqui com uma força maior, porém enquanto no disco de 2024 as referências se adaptam bem à personalidade artística da cantora, Man’s Best Friend se limita à uma réplica de suas influências. Embora ela tente buscar o mesmo êxito de alguns dos melhores destaques de Short N’ Sweet com as composições com aspecto sensual e um tom irônico, são poucos os momentos em que realmente o som é efetivo em manifestar essas qualidades.
Lucas Granado: Grande parte do que me incomoda na Sabrina é que ela nunca se arrisca em quase nada do que faz, e não que um artista precise disso para ter valor, mas acaba se tornando cansativo em certo nível, uma vez que você já surgiu como um produto genérico e sem muita identidade. Man's Best Friend além de ser uma reprodução rasa de suas referências, é também a tentativa de reproduzir o que está em alta (e que ela já faz parte) para continuar obtendo sucesso comercial, o que, para mim, é bem broxante quando se entrega um material tão repetitivo em temas e sonoridades que poderiam ser melhor exploradas. Consigo enxergar mais “graça” em músicas como “When Did You Get Hot” — que brinca com o trip hop em certos nível — e também em “House Tour” que se difere das demais pela (péssima) tentativa do Jack Antonoff de reviver o new jack swing, assim como está fazendo com os novos trabalhos da Doja Cat, aparentemente. Se eu pudesse resumir esse álbum em uma palavra seria: enfadonho.
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