Crítica | MONDO MUSIQUE


★★★★☆
4/5

A esta altura de 2025, nem vale mais questionar a classificação de um disco como MONDO MUSIQUE, que paira entre as formalidades da música eletrônica experimental e o funk. Na verdade, isso serve para debates mais profundos, essencialmente quando se trata da raiz de uma obra e de seu poder de penetrar nesses espaços – e do efeito que há de causar neles: apagamento ou revisionismo do bem? Nada disso se aplica aqui, pois MONDO MUSIQUE está mais do que atrelado ao som marginal que tem se formado nessas mesclas. Vale, nesse sentido, o comentário que o lendário Merzbow fez durante uma entrevista à Resident Advisor em 2015, e que traduz o sentimento que muitos DJs e produtores desse novo espaço têm quase como filosofia no que se refere à classificação e às disputas sobre gêneros ou estilos, novos ou velhos, dentro de suas próprias assinaturas: “I don't personally see myself working in music that's fixed to any genre in particular.”

Aqui, noologia propõe sua assinatura, que sobressai visões de funk e eletrônica. Daria pra dizer que há algo próprio, e novo, mas seria injusto com a própria trajetória do projeto, que lida com suas referências de forma surreal, calculada num sentido livre, para causar no ouvinte experiências até mesmo externas à música. Tudo é coordenado por um design de som que triunfa em texturas líquidas e grudentas como látex (“BEAT PSICOSSEXUAL”) e agressivas num estado de realmente expelir socos em forma de batidas (“MÁQUINA:ANIMAL”). É um produto químico que altera seus sentidos a todo instante, e não consigo pensar em nada mais abrasivo, cheio de atrito, do que isso dentro do funk e da eletrônica brasileira, talvez apenas Iguana em ESCAMA. Em “MARRETA BIÔNICA (LASER DUB)”, a acapella é desmembrada por baixos e lasers rasteiros, que escorrem pela faixa numa velocidade indistinguível. É o tipo de música que só se absorve depois de ouvir uma, duas, três vezes, de tão complexa e densa, com elementos impossíveis de serem apontados, apenas sentidos. E talvez por isso passe longe de ser classificada: é indomável, selvagem.

Selo: arritmos
Formato: EP
Gênero: Experimental

Matheus José

Graduando em Letras, 24 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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