Crítica | TREZE


★★★★☆
4/5

Há diversos caminhos que um DJ de funk pode trilhar para construir um disco bem-sucedido no terreno da bruxaria: 1) optar por amostras, samples e elementos já bastante conhecidos no gênero e distorcê-los enquanto os recheia com suas marcas; ou 2) elaborar quase tudo do zero, ao lado de outros artistas que somam na criação, recorrendo a signos consolidados na cena. Não existe uma direção superior à outra, e young13 comprova isso em seu novo EP, TREZE. O trabalho percorre todos os sentidos possíveis, como se, ao mesmo tempo em que se empenhasse em desenvolver ideias próprias, também se apoiasse no que há de mais potente disponível para quem deseja emergir neste cenário.

young13, assim como outros DJs de funk que se dedicam a trabalhar a estética da bruxaria em um tecido mais acessível, atua como mestres da música eletrônica do fim dos anos 90: ele mistura tudo que veio antes. E nisso se incluem beats, acapellas e diferentes ritmos, numa lógica de composição que até lembra um set, mas é mais contida por apresentar, em cada faixa, um componente com a sua própria distinção. Na abertura, “VAI COMEÇAR A PUTARIA”, com SPANCO e Malu Silmon, o tuim sobe tanto nas notas que nem as percussões conseguem suavizar o impacto que ele causa quando atinge o volume máximo, exceto um conjunto de cordas carregado de baixos que cria a primeira ponte do disco entre funk e EDM – o que vimos bastante ao longo do ano.

É por isso que o grande destaque, “MENÓ DO TORRO”, com P.L.K, é o centro lógico do que TREZE apresenta como diferencial na ida de young13 para os diferentes estágios da bruxaria. Começa com baterias minimalistas e palavras faladas que instauram o clima perfeito em que a música há de se esbaldar. A atmosfera é guiada por ecos de dub techno atravessados por uma estrutura que beira um grau mais pertubado de minimalismo, reforçando a crescente influência do Basic Channel no funk, já que, em todas essas incursões recentes que o gênero fez com a música eletrônica formal, texturas e reverberações assim se tornaram introduções perfeitamente ajustadas às faixas, dada sua propensão espacial, de espaço físico mesmo. Esses ecos persistem, enquanto os versos de P.L.K, com variações incríveis de humor, um tom quase sussurrado e rimas nada previsíveis, dão profundidade à ambientação noturna, adornada por cantos árabes distorcidos que remetem ao funk de um passado não muito distante. O mais impressionante são os segundos finais, cujo instrumental mantém batidas secas e o ar dub avançando rumo à revelação de uma espécie de house que estava ali o tempo inteiro. Nada soou assim até então.

Tudo é muito impressionante no ponto de vista de domínio dos artefatos ora extraídos do funk, ora da eletrônica. A sequência, “PENETRAÇÃO AUDITIVA”, com Levynn, eleva ainda mais o arrojo EDM do projeto, que percorre toda a duração da faixa, enquanto “BEAT ANCESTRAL”, com DJ K1TO, Rxfx e Mc Pj 013, evidencia que a bruxaria também pode se misturar tranquilamente com a ritmada: são percussões tubulares, ruidosas e algo que se assemelha a um berimbau metamorfoseado. Seria impensável algo nessa linha até pouco tempo, pois, embora exista rivalidade sadia entre os estilos, ambos pertencem ao mesmo terreno; por isso, a incursão de young13 funciona mais como um lembrete de que seu passeio por marcas já estabelecidas do funk inclui o melhor da ritmada e da bruxaria no mandelão.

Ainda assim, é nítido o lado ao qual ele se inclina. Em “O NEGÓCIO É BRUXARIA”, com Mc 4R, MAC10TA e DJ Pedro Bala, o baixo estridente remete ao ruído estilo power noise que se popularizou entre 2021 e 2022. É quase inaudível, e é a bruxaria como ela sempre foi. A faixa está ali para reafirmar isso, pois nela não faltam os pilares do estilo: a risada do palhaço e o tuim. Ambos surgem quase no final, presença indispensável porque o clima muda completamente; percussões metálicas, graves estourados e os agudos do tuim completam a combustão que young13 provoca ao reunir esses sons. O curioso é que, de alguma forma, nos últimos meses, o tuim se tornou o beat mais insuportável, enjoativo e enfadonho do funk – e eu simplesmente amo isso. Podem passar 5 ou 10 anos, o tuim seguirá sendo a criação mais intransigente que o gênero já produziu, e mesmo sendo pouco utilizado atualmente, seu valor permanece como parte da experiência real dos bailes. E young13 sabe disso como poucos.

Por isso, TREZE segue o caminho de outros discos de funk que buscam, neste momento de expansão, realizar um percurso pelas diversas faces já estabelecidas do gênero. Ele faz isso com afinco, justamente pela habilidade de young13 em conduzir esse trajeto ao lado de nomes interessantes de descobrir na cena, evitando figuras óbvias e apostando em uma diversidade que se reflete instintivamente no próprio som. Vale ressaltar que, em nenhum instante, ele parece se esquivar de maneirismos ou se aproximar de algo inofensivo, já que propõe uma expansividade de ideias que não se limita a um único rumo. A única certeza que podemos ter é que este é um disco que abre uma nova direção em sua promissora trajetória no funk.

Selo: Independente
Formato: EP
Gênero: Funk

Matheus José

Graduando em Letras, 24 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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