
★★★★☆
4/5
A Erika de Casier é chiquérrima. Chique no nível porcelanato da Companhia das Índias e Modigliani pendurado na parede, ou talvez, como diria a revista Marie Claire (que não é lá grande coisa no ramo chique-meu-bem da imprensa), “chique é ser inteligente”, e Erika é chique das duas maneiras, à seu jeito. A elegância com que ela transita por entre instrumentais etéreos e às vezes, lá e cá, um drum & bass, de maravilhar os ouvidos e dar vigor aos bons-sensos. Mas se eu dissesse que estava esperando Casier num trip hop estaria sendo no mínimo um pouco duvidoso – pra não dizer mentindo.
Em Lifetime, Erika, que é nativa de Portugal mas cresceu em Copenhagen (vide o nome de paulista interiorana) sobe no salto do downtempo que marca boa parte da sua carreira, com sua apresentação relaxada e quase sempre num mesmo tom de voz, mas decide dar um quê de trip hop e de dub, numa meia hora que passa, infelizmente, deliciosamente rápido. O céu da capa do álbum não é bege de brincadeira – a atmosfera de luxo zen do álbum é tão constante que às vezes é até difícil saber quando acaba uma faixa e começa outra, e seria impossível senão pela graça dos fade-outs e das ambientações de estúdio que ela volta e meia coloca nos segundos finais.
Como é meio de praxe em trabalhos mais atmosféricos, a escrita de Erika não fica muito em primeiro plano, ainda que seja uma compositora quase voraz – tem, inclusive, composições para o grupo sul-coreano NewJeans no catálogo – e isso não é nenhum demérito, apesar de ser bem divertido ver até onde ela vai com as palavras nos outros álbuns, um tanto menos ambientais. E como ser chique também envolve escolhas inteligentes, os trinta minutos de cabo a rabo são uma qualidade positivíssima, e refletem uma certa consciência de como a sonoridade está sendo transmitida.
E vamos falar do trip hop: scratch de vinil e som onírico complementam a voz doce de Casier como uma luva, e é meio de surpreender que ela não tenha se enveredado por esse terreno mais cedo na carreira. Fora a coisa crepuscular e com energia de meia-luz que cerca desde a capa até os mergulhos para um lado R&B que permeiam boa parte do álbum, Lifetime é uma aula magna de concisão e consistência, também de beleza e melancolia.
De novo, chi-quér-ri-ma. Uma lufada de ar fresco quando o céu está aquele azul escuro das seis da manhã, o ventilador novo que é mais silencioso e mais fresquinho que o antigo, durante uma noite quente qualquer de verão. É de aplaudir, de deitar numa cama sob um céu bege, ao lusco-fusco, e dizer “ah, como é bom…”; o objeto desse elogio tanto faz, e até Erika parece não saber bem. Mas como é bom.
Selo: Independent Jeep Music
Formato: LP
Gênero: R&B / Downtempo
4/5
A Erika de Casier é chiquérrima. Chique no nível porcelanato da Companhia das Índias e Modigliani pendurado na parede, ou talvez, como diria a revista Marie Claire (que não é lá grande coisa no ramo chique-meu-bem da imprensa), “chique é ser inteligente”, e Erika é chique das duas maneiras, à seu jeito. A elegância com que ela transita por entre instrumentais etéreos e às vezes, lá e cá, um drum & bass, de maravilhar os ouvidos e dar vigor aos bons-sensos. Mas se eu dissesse que estava esperando Casier num trip hop estaria sendo no mínimo um pouco duvidoso – pra não dizer mentindo.
Em Lifetime, Erika, que é nativa de Portugal mas cresceu em Copenhagen (vide o nome de paulista interiorana) sobe no salto do downtempo que marca boa parte da sua carreira, com sua apresentação relaxada e quase sempre num mesmo tom de voz, mas decide dar um quê de trip hop e de dub, numa meia hora que passa, infelizmente, deliciosamente rápido. O céu da capa do álbum não é bege de brincadeira – a atmosfera de luxo zen do álbum é tão constante que às vezes é até difícil saber quando acaba uma faixa e começa outra, e seria impossível senão pela graça dos fade-outs e das ambientações de estúdio que ela volta e meia coloca nos segundos finais.
Como é meio de praxe em trabalhos mais atmosféricos, a escrita de Erika não fica muito em primeiro plano, ainda que seja uma compositora quase voraz – tem, inclusive, composições para o grupo sul-coreano NewJeans no catálogo – e isso não é nenhum demérito, apesar de ser bem divertido ver até onde ela vai com as palavras nos outros álbuns, um tanto menos ambientais. E como ser chique também envolve escolhas inteligentes, os trinta minutos de cabo a rabo são uma qualidade positivíssima, e refletem uma certa consciência de como a sonoridade está sendo transmitida.
E vamos falar do trip hop: scratch de vinil e som onírico complementam a voz doce de Casier como uma luva, e é meio de surpreender que ela não tenha se enveredado por esse terreno mais cedo na carreira. Fora a coisa crepuscular e com energia de meia-luz que cerca desde a capa até os mergulhos para um lado R&B que permeiam boa parte do álbum, Lifetime é uma aula magna de concisão e consistência, também de beleza e melancolia.
De novo, chi-quér-ri-ma. Uma lufada de ar fresco quando o céu está aquele azul escuro das seis da manhã, o ventilador novo que é mais silencioso e mais fresquinho que o antigo, durante uma noite quente qualquer de verão. É de aplaudir, de deitar numa cama sob um céu bege, ao lusco-fusco, e dizer “ah, como é bom…”; o objeto desse elogio tanto faz, e até Erika parece não saber bem. Mas como é bom.
Selo: Independent Jeep Music
Formato: LP
Gênero: R&B / Downtempo