Os melhores discos de música experimental de 2025 (até agora)


Com Dean Blunt, Dustin Wong, Eliana Glass, Eduardo Manso, Iguana, Lucy Liyou, Los Thuthanaka, Manu Trovão, Vanessa Rossetto, Weed420 e mais!

Às vezes rock, às vezes eletrônica, às vezes jazz... A música experimental sempre se mostra dispersa quando o assunto são os gêneros que ela atravessa. Nesta lista, reunimos o melhor do que prevaleceu nessa primeira metade de 2025 entre esses e outros estilos que compõem um dos cenários mais importantes da música atual, onde a inovação pulsa e a vanguarda se materializa em criações que perpassam diferentes espaços.

A presente lista conta com discos lançados entre 15/11/2024 a 11/06/2025, e grande parte dos textos são fragmentos de críticas publicadas no site ao longo deste período.



Dean Blunt - Lucre


“And I want to preach the truth and everything” é uma frase linda, e fica na mente, hoje percebi que é quase um manifesto do disco. A faixa 5 do álbum abre com alguns licks de guitarra, algo de The Smiths, um jangle pop bem comum cuja letra é tão deprimente quanto se pode imaginar. Essa chama atenção também pelo final, um efeito de voz que faz tudo parecer Is this It. A reação inicial é lembrar que é um álbum de indie rock. - Tiago Araujo



Dustin Wong - Gloria


Mais do que propor uma construção de sons que o coloca à frente de muito do que se entende dos formalismos e classificações musicais, Dustin Wong cria, em Gloria, um fabuloso e pontiagudo cerco emocional. Uma obra que derrama afeto em cada acorde, cada som estrondoso e mínimo, silencioso em sua alma, mas que revela-se conturbado e esteticamente volumoso em sua concepção geral. - Matheus José



Duval Timothy - Wishful Thinking


O novo álbum de Duval Timothy, Wishful Thinking, concentra seu estudo criativo com base no piano clássico quase como um cerne inalienável de suas composições, mas com erupções (momentos de maior ruptura) que passeiam em diferentes direções. São estados programados pelo artista que aderem um pouco de tudo que sempre fez: há hip hop (não da maneira como conhecemos, obviamente), eletrônica e gravações de campo. - Matheus José



Eliana Glass - E


A atmosfera de E, álbum de estreia de Eliana Glass, é serpenteada por suas referências o tempo todo, longe, porém, de se limitar a elas – uma vez que seria impossível, já que são muitas. Esse fato, por si só, já demonstra o quão ricas são as bases da artista, e como ela trata tudo isso com uma naturalidade que consegue criar, sem grande esforço, uma forma muito própria de transmitir ideias. - Matheus José



Eduardo Manso - WOW


WOW, de Eduardo Manso, busca traduzir em timbres acústicos e eletrônicos a experiência sensorial de um hipotético novo contato extraterrestre. A obra chama atenção não apenas por nos transportar para um plano cósmico e espacial, mas principalmente por transformar toda essa narrativa em música, evitando cair em maneirismos. Há uma robustez estética evidente em cada faixa: progressões melódicas minuciosas entrelaçam sons orgânicos e camadas tecnológicas, com baterias e baixos que dialogam com a emulação de radiofrequência. - Matheus José



Iguana - Escama


Escama, EP de estreia do produtor Iguana, desafia a já constante experimentação dentro do funk. É um trabalho que encontra sua razão de ser na insubordinação a padrões e estruturas, funcionando tanto como parte da vanguarda da música eletrônica experimental quanto do próprio funk. Aqui, a ideia de sons extremos e batidas implacáveis é levada a sério, sobretudo pelo uso de texturas líquidas e rangidas que, embora sigam o compasso tradicional do funk, transcendem os limites normativos do gênero. - Matheus José



Jenny Hval - Iris Silver Mist


Em Iris Silver Mist nos afastamos de suas experimentações mais ousadas no campo da música experimental tipo as quais Jenny Hval traduz em discos como Apocalypse, girl, de 2015, para mergulhar em sons tomados por gravações de campo e uma sonoridade bucólica que emana natureza — e, muitas vezes, a imensidão do tempo. A relação entre esses elementos nasce da forma como o álbum foi concebido: uma viagem ao passado, sem se prender à nostalgia, inspirada pelo cheiro de um perfume homônimo que despertou em Hval uma paixão pelas fragrâncias que marcaram sua vida. - Matheus José



Jefre Cantu-Ledesma - Gift Songs


O novo álbum de Jefre Cantu-Ledesma, Gift Songs, se arrasta por longas tomadas como se hesitasse em entrar em uma espiral de monotons cujos drones apontam o tempo todo, sempre captando sons e ambientes que partem do princípio de que a música é um presente, e que deve ser tecida a partir de condições únicas para obter, talvez, o melhor resultado possível desse processo. - Matheus José



Jake Muir - Campana Sonans


Assim como as obras mais recentes de Kali Malone, Campana Sonans desnuda a mitologia ao redor das igrejas e de seus entornos sonoros. Mas, em vez de órgãos, são os sinos que protagonizam a composição desses sons, que são capturados por Jake Muir como se pudessem se comunicar, falar conosco. A partir deles, ele constrói melodias entrelaçadas com gravações de campo, fragmentos vocais, ruídos e tudo aquilo que pode se transformar em música em seu sentido mais vivo e pleno. - Matheus José



Kathryn Mohr - Waiting Room


Na escuridão da noite, Kathryn Mohr não apenas sussurra, mas parece gritar. Seu novo álbum, Waiting Room, é um mergulho na tensão e taciturnidade, uma combinação perfeita para a atmosfera evocada ao longo de extensas camadas de sintetizadores analógicos, gravações de campo e vocais gélidos, serenos, que ressoam como uivos caninos capazes de arrepiar a espinha. - Matheus José



Lucy Liyou - Every Video Without Your Face, Every Sound Without Your Name


Em sua essência, o álbum é uma narrativa íntima, tecida por sete faixas que desvelam a angústia de Lucy Liyou ao confrontar a partida de um amor idealizado. Suas súplicas para que esse afeto permaneça não se traduzem em palavras explícitas, mas emergem de uma sonoridade minimalista, envolta em melancolia e quietude, longe de lamentações pós-término ou algo do tipo. - Antonio Rivers



Los Thuthanaka - Los Thuthanaka


O que Los Thuthanaka reúne é o que a música tem de mais provocador na atualidade: a união de duas mentalidades criativas que, apesar de suas identidades singulares, convergem para algo único. Mais do que despertar curiosidade, o álbum instiga e desafia – e deixa no ar uma questão inevitável: até onde esses dois nomes podem chegar? A resposta parece estar em sua própria riqueza inerente, perene, numa cultura que não pode ser colhida de forma ríspida ou rotineira. - Matheus José



LEYA - I Forget Everything


A materialidade com que as ideias de LEYA foram transmitidas está embutida em cada pequeno detalhe de I Forget Everything, e somente uma escuta atenta pode fornecer o gancho mental que temos ao longo de sua duração, que definitivamente nos faz esquecer de tudo. É um espetáculo completo, comprimido em apenas dezoito minutos. - Matheus José



More Eaze e claire rousay - No Floor


Por mais que tentemos nos render à calmaria implícita na construção da chamada música ambiente, No Floor, de More Eaze e claire rousay, surge justamente da tensão entre essa expectativa e o que a música – seu ritmo, sua narrativa – pode propor em um estado ampliado de percepção. O álbum se constrói sobre camadas de ideias sobrepostas: o pedal steel de More Eaze, evocando a paisagem do Centro-Oeste americano e sua tradição de desbravamento, e a produção caseira, porém altamente atmosférica, de claire rousay. - Matheus José



Merzbow - Hatonal


Hanotal é um álbum bastante incomum para Merzbow, especialmente considerando sua fase mais recente, em que ele estava explorando caminhos de produção de músicas com o uso de ferramentas de inteligência artificial. Neste novo trabalho, ele retorna, em parte, a uma sonoridade mais próxima daquela que o consagrou nos anos 90. Um pouco menos agressivo, eu diria, mas ainda muito focado na exploração de texturas uniformes — algo que remete a um noise mais voltado para o drone. - Tiago Araujo



Manu Trovão - Conversa Fiada


Conversa Fiada é característico como o som de um trompete — e isso o torna único. A capacidade de Manu Trovão em construir narrativas que sentimos e conseguimos imaginar visualmente dentro desse complexo conjunto é notável. Ela consegue fazer até o mais cético em relação à música experimental contemplar, ainda que com moderação, o LP — misturando todas as tribos. Impressionante. - Lu Melo



Negro Leo - RELA


Com o trabalho mais diferenciado da sua extensa discografia, Negro Leo quer dissertar sobre o sexo. Sexo virtual, sexo pixelizado, sexo marciano, sexo imagético. Ferramenta de prazer e catalisador orgástico. Ele consegue discorrer sobre esse fenômeno social, que são as interações sexuais através das redes sociais, com uma sagacidade afiada. Ele belisca em nuances que escorrem por nossos corpos e dedos, do frisson libidinoso ao pós-coito digital. - Felipe



Peter Rehberg - Liminal States


Liminal States, álbum póstumo do pioneiro de música eletrônica Peter Rehberg, que faleceu em 2021, não teme expandir para o nada, para o vazio deixado por seu autor na música. Composto por uma longa gravação que mistura drones etéreos e música ambiente com choques de eletrônica barulhenta, o disco é uma efusão completa dos signos que o artista mantinha quando vivo. - Matheus José



Raisa K - Affectionately


Entre o plon-plon (metais) e o brrr-brrr (guitarras), o álbum de estreia de Raisa K adentra de sopetão em ideias que se distanciam do que normalmente é considerado pós-punk. Ele se destaca principalmente pelas criações instrumentais atmosféricas, que aqui são fisgadas por letras que despertam apenas curiosidade sobre as complexidades emocionais da artista. - Matheus José



The Pan Afrikan Peoples Arkestra - Live at Widney High December 26th, 1971


Mostrando a possibilidade da conexão histórica e espiritual por meio da música, esse álbum aparece com um sistema livre. Sem preocupação com convenções, forma, ou com uma finalidade objetiva, a música é feita por meio da vontade, pela insubmissão e conexão com as palavras que são ditas. Uma das sessões de free jazz mais bonitas que existem. - Tiago Araujo



U.e - Hometown Girl


Nos instantes iniciais de Hometown Girl, nota-se como cada acorde, dedilhado ou simples toque instrumental — orgânico por natureza — parece ir e vir numa simplicidade que transcende a urgência de soar próximo aos nossos ouvidos. Aqui, esses instrumentais aderem a uma atmosfera de vazio e de eco, sendo tocados como se estivessem livres tanto de um segmento maior de composição quanto de um ritmo definido. - Matheus José



Vanessa Rossetto - Pictures Of The Warm South


Vanessa Rossetto é uma artista que traduz o presente por meio do som, captando o que ninguém mais percebe. Em Pictures Of The Warm South, ela vai além das gravações de campo, coletando sons do cotidiano para criar composições eletroacústicas sensíveis. Em duas horas, transmite uma escuta quase cruel de tão precisa, transformando ruídos em arte e revelando a essência do agora com profundidade rara. - Matheus José



Violeta Garcia - IN / OUT


Gravado em um reservatório subterrâneo em Genebra, o novo álbum de Violeta Garcia, IN / OUT, desafia a si mesmo ao explorar até onde o uso do violoncelo pode ir na composição de faixas que cruzam suas próprias barreiras. O álbum possui uma fragrância específica que escurece a atmosfera por meio de passagens próximas ao dark ambient e ao minimalismo contemporâneo. - Matheus José



Weed420 - amor de encava


Por mais caótico que amor de encava possa soar, tudo aqui está onde exatamente deveria estar. O uso do epic collage mais do que um gênero/estilo para se apoiar, mostra-se como parte do tema que artistas como os do projeto venezuelano Weed420 e toda sua estranheza tendem a proporcionar como ninguém – perca-se nisso. - Matheus José



Walt McClements - On a Painted Ocean


Grande parte da tradição do drone de música experimental está atrelada a uma anti-devoção ao silêncio, ao contrário do que parece. Embora apele por um minimalismo em seus tons que se aprofundam nos acordes de acordeão, o novo álbum de Walt McClements, On a Painted Ocean, está longe de ser quieto, estático ou qualquer sinônimo de contemplação ao ambiente. É um disco movido pela força de seus instrumentos, da sua constante crescida e do seu pico, atingido com calor, barulho, ainda que uníssono, daquilo que ouvimos ao longo de sua duração. - Matheus José
Aquele Tuim

experimente música.

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